RECORDAÇÕES DO PASSADO
(de Frederico de Brito e Vianinha)
Concordo que me falem na Severa
pois nos seus tempos já era
mais que rainha do fado.
E entendo dever lembrar outros mais
esses nomes imortais
dos fadistas do passado.
Tecer a glória duma Cesária fadista
duma Maria Vitória ou duma Júlia Florista
do Armandinho,
fadistas duma só crença,
Marceneiro e Machadinho
Joaquim Campos e Proença.
Dos poucos nomes que disse
não posso, mesmo que queira,
esquecer a Maria Alice, Maria Emília Ferreira.
Depois, nesta hora incerta, lembrar a Ercília Costa,
Amália, Hermínia e Berta
das quais tanto o povo gosta.
E agora, quando os mais novos acordam,
são os velhos que recordam
como em tempos era o fado.
E os de hoje, de vida alegre e louçã,
hão-de chorar amanhã
com saudades do passado.
Ninguém entende, nesta aparência bizarra,
como é que a gente se prende
às cordas duma guitarra.
Ninguém maldiga o fado que nos encanta
que a vida é uma cantiga
que nem toda a gente canta.
E quando eu fôr mais velho hei-de entreter-me, bem sei,
ensinando aos meus rapazes os fados que já cantei.
Talvez que vocês apontem
as nossa noites de agrado
que lhes digam, que lhes contem
que eu também cantava o fado.
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