terça-feira, outubro 04, 2005

Belos tempos!

Um fado do repertório de Berta Cardoso, letra de Fernando Teles

Dos belos tempos de outrora
São relíquias do passado
Dois impagáveis tesoiros:
A guitarra mais o fado.

Era na Lisboa antiga,
Quinta-feira de Ascenção,
Dia de consagração,
Porque era dia da espiga...
Com farneis e sem fadiga
Assim que raiava a aurora
Toda a gente, campos fora,
Procurava a sombra amena.
Ai, que saudades, que pena
Dos belos tempos de outrora!

As noites tradicionais
De todos os nossos santos,
Eram motivo de tantos
Ranchos, bailes, festivais.
Os círios, os arraiais,
Rabicha, Senhor Roubado,
Atalaia, Sol Doirado,
Como tudo isto era lindo!
Estas coisas tempo findo,
São relíquias do passado.

E nas vésperas de toirada
Nos retiros, que alegria!
'té a nobreza se via
Pelas mesas abancada.
Cantava-se à desgarrada
Até à vinda dos toiros;
Cobriram-se assim de loiros,
Entre a fadistagem vária,
A Severa e a Cesária,
Dois impagáveis tesoiros.

Fidalgos, boémios, artistas
E toureiros elegantes,
Tinham por suas amantes
As cantadeiras bairristas.
Nesse tempo de fadistas
E do saiote encarnado,
Só nos resta por sagrado
Penhor bem tradicional
Dois filhos de Portugal:
A guitarra mais o fado.

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