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terça-feira, outubro 25, 2016

ÍDOLOS DO FADO


Talvez lhe interesse saber que a Biblioteca Nacional Digital disponibilizou o "Ídolos do Fado", a que pode aceder através deste link
       http://purl.pt/28992

Aqui fica a informação que me foi prestada por José Leite, do excelentíssimo "Restos de Colecção", a quem, mais uma vez, agradeço.

domingo, março 31, 2013

MARIA ALICE - "Fado Loucura"



Vem este brevete a propósito do mais recente verbete do blogue "Soldado do Fado" onde nos é dado ouvir um dos fados das primeiras gravações, entre 1929 e 1931, de Mª Alice, disponibilizado em CD na Colecção "Arquivos do Fado", pela Tradisom; o fado "Vida Triste", tem letra de J.F. de Brito e é, nem mais nem menos, do que o Fado Loucura, música de Júlio de Sousa.



Aqui se confirma o que afirmei no meu anterior verbete, de Dezembro de 2005, e agora ratifico, acrescentando que seria de todo impossível ser este um fado de Lucília do Carmo, que o gravou, é certo, mas que só começou a cantar uns anos após a criação deste fado e cuja criadora também não foi Berta Cardoso, apenas foi a voz que o tornou mais conhecido e que mais conhecida ficou através dele. Os senhores estudiosos e investigadores de Fado, que muitos já são, sabem por certo a quem me refiro...
Como ora sói dizer-se, isto é assim e contra provas, não há argumentos... e provas há!
Relativamente às biografias, desta/e e doutras/os fadistas, que pululam em diversos blogues, sem devidamente indicar, em grande parte dos casos, a proveniência, as fontes, e que eu, ora transcrevo indicando o blog, ora linko, quase todas têm como fonte, ou o precioso livro de Victor Machado, editado em 1937, ou, noutros casos, a esforçada obra de Eduardo Sucena, de 1992; esta situação verifica-se igualmente a nível editorial, o que é mais grave, em obras posteriores àquelas datas, em que as biografias apresentadas pouco têm de investigação ou de inovação; são, praticamente, pouco mais do que cópias daquelas! Sei do que falo...
A assim ser, aqui têm a biografia de Mª Alice, a verdadeira, a elaborada por Victor Machado e constante do seu livro "Ídolos do Fado", a que aqui já me referi e a que agora volto a fazer referência... 
Nunca será demais!...
(verbete de 23.08.2009, reeditado)

quarta-feira, novembro 11, 2009

ADELINA FERNANDES - "Fado Anita"





VÍDEO DE HOMENAGEM
Com os meus renovados agradecimentos ao EradoGramophone, por mais este documento tão importante para a memória do Fado, que nos permite escutar esta notável actriz e cantadeira, vamos ouvi-la num dos seus êxitos, o "Fado Anita".

terça-feira, novembro 10, 2009

BERTA CARDOSO - "Amor Filial" e "Cruz de Guerra"





Mais um belíssimo vídeo da EradoGramophone

com dois fados gravados por Berta Cardoso, em 78rpm, duas raridades - Amor Filial, de Luiz da Silva Gouveia e de Jaime Santos e Cruz de Guerra, de Armando Neves e de Miguel Ramos.
Obrigada pela partilha.
De facto, a Cultura não deve ficar fechada em armários, nem arrumada em estantes...
Parabéns por pertencer ao grupo dos poucos que, no meio do Fado, têm esta disponibilidade, esta atitude, esta generosidade de partilhar estes bens raros!...

terça-feira, setembro 01, 2009

MARIA SILVA - "Fado Antigo"




VÍDEO DE HOMENAGEM




Fado de Lisboa (1928-1936), ed. Tradisom, col. Arquivos do Fado, vol I
A colecção Arquivos do Fado conta agora com 3 novos belíssimos CD's, que incluem uma quantidade considerável de inéditos das fadistas ERCÍLIA COSTA, MARIA ALICE e AMÁLIA. Saiba tudo aqui

sábado, fevereiro 28, 2009

MARIA DO CARMO (Alta) - "Os beijos são como as rosas"





VÍDEO DE HOMENAGEM


Gravado em 1929, este fado cantado por Maria do Carmo Alta, uma das consagradas cantadeiras que pertence à História do Fado das primeiras décadas do séc. XX, integra o Vol.I - Fado de Lisboa (1928-1936), da colecção "Arquivos do Fado", editada em Portugal pela Tradisom , de que é Director José Moças.
A música é da própria Maria do Carmo, que se acompanha à guitarra e a letra, de Adriano dos Reis, diz assim:
Os beijos são como as rosas / Têm espinhos e perfumes / As pétalas nascem da alma / E os espinhos do ciúme
Na capela do meu peito / Tenho a saudade escondida / Fechada no coração / Pela chave da minha vida
Meu sonho é o triste Fado / O Fado que eu tanto adoro / Quando geme uma guitarra / Pensam que canto, mas choro!

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

ÍDOLOS DO FADO




Uma Antologia que bem merecia ser reeditada, prefaciada pelo ilustre escritor e jornalista Artur Inez e que o autor, A. Victor Machado, inicia com a seguinte "dedicatória":

"Em João Black, Avelino de Sousa, João Linhares Barbosa, António Garcia, João Reis, Maria do Carmo, Ermelinda Vitória, Fortunato Coimbra, António Pedro Machado, Reinaldo Varela e Francisco Miguel Ramos, lídimos paladinos do Fado, abraço todos os poetas, jornalistas, cantadeiras, cantadores, guitarristas e violistas, novos e da velha guarda, que hajam contribuído ou venham a contribuir na nobilitação e engrandecimento da linda Canção lusa.

Lisboa, 1937 "

domingo, junho 15, 2008

HERMÍNIA SILVA - "Telhados de Lisboa"



"É indiscutível que Hermínia Silva foi um ídolo do povo, que a elegeu, a amou e venerou, e ela correspondeu. ... Eu adorei a Hermínia", diz Vítor Duarte Marceneiro, no seu livro Recordar Hermínia Silva, uma monografia em jeito de homenagem.

Creio que muitos serão os que, como Vitor Marceneiro, dirão "Eu adorei a Hermínia"! Eu, já disse!

Apaixonada pela sua cidade, vamos recordá-la interpretando um dos seus enormes êxitos, o fado "Telhados de Lisboa", cuja música é, curiosamente, da autoria de seu filho, Mário Silva, e a letra de Frederico de Brito.

VÍDEO DE HOMENAGEM


Do blog http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/ , da autoria de Vítor Marceneiro, a nota biográfica desta notável fadista:
"Hermínia Silva nasceu às 18 horas do dia 23 de Outubro de 1907, no Hospital de São José, freguesia do Socorro, era filha de Josefina Augusta, que morava à data do parto na Rua do Benformoso, 153, no 1.º andar, freguesia dos Anjos, em Lisboa. (1)

(1) Conforme Acento de Nascimento n.º 704, do ano de 1907, na 8.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa.
Sua mãe, chamava-se Josefina Augusta, era natural de Samora Correia. Teve uma irmã mais velha que tinha o nome de Emília e um irmão que se chamou Artur Moreira.

É com palavras da própria Hermínia, com a sua simplicidade, a sua graça no jeito tão pitoresco que ela tinha a exprimir­‑se, que aqui se transcreve parte da sua biografia:
Julgo que nasci numa casa ali para os lados do Campo de Santana (2), numa travessa, cujo nome não recordo, e não recordo porque saí de lá apenas com oito meses. A verdade é que não tenho quaisquer recordações do tempo que mediou entre o meu nascimento e a idade escolar, mas creio que fui uma criança absolutamente normal, com todas as gracinhas, «perrices» e evoluções que são comuns a todas as crianças normais.
No entanto, recordo que me con­taram que quando tinha oito meses caí da varanda à rua. Mas eu explico como isso foi e como é possível eu ainda aqui estar a falar sobre a minha infância.
Ora, na casa onde nasci, havia uma va­randa, na qual eu brincava habitualmente, que, por segurança, estava protegida por uma rede. Porém, um dia, por qualquer razão, que ignoro, alguém tirou a rede e eu, na minha «gatinhice», enfiei pelas grades e fiz um «voo pi­cado» até à rua… bom, até à rua não, porque tive a sorte de cair na giga de uma mulher que vendia hortaliça e que, providencial­mente, passava nessa al­tura debaixo da varanda.
Logo um senhor, que passava por ali na ocasião, agarrou em mim e levou­‑me para o Hospital. Cheguei lá e... pasmem, verificaram que não tinha nem uma beliscadura. E eu, muito sossegadinha, não chorava nem nada.
Deram­‑me, depois, lá no Hospital, uma colher de cerveja preta e trouxeram­‑me finalmente de volta a casa, onde todos se encontravam mui­to aflitos,... Mas cair de um segundo andar à rua, apenas com oito meses, e nada sofrer, hem?! Ao menino e ao borracho…
Este é, segundo julgo, o único episódio fora do vulgar da minha infância, já que não tenho ideia ouvir falar em mais nada.
Como consequência dessa queda da janela à rua, veio uma mudança de resi­dência. Minha mãe, impressionada com o acidente, não quis continuar naquela casa e, assim, mudámo­‑nos para o Castelo.
(2) Hermínia faz esta afirmação sobre o seu nascimento em entrevista ao jornal Trovas de Portugal, de 30 Julho de 1933, onde, na página seis, Hermínia escreve pela pena do jornalista: — Sou de Lisboa, freguesia do Socorro, e criei­‑me no Castelo de S. Jorge!
No Álbum da Canção, datado de 1965, fala do local do seu nascimento, mas sem muita clareza: — nasci numa travessa da qual não me lembro o nome, ali ao “Campo de Santana”.
Em 1980, quando da festa da entrega da Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, Hermínia Silva é entrevistada para a RTP e diz que nasceu na «Rua das Flores» que ficava junto à Travessa Conde de Avintes, e que era perto do local onde morava o Armandinho. Ora este local situa­‑se na freguesia de S. Vicente de Fora e há lá uma Travessa das Flores e não Rua das Flores.

Desde que me entendo que gostei de cantar. E o fado, cantava­‑o a todo o mo­mento, e por toda a parte: na rua, em casa, na escola, desde que aos seis anos comecei a frequentar a escola, que ficava ali na Rua da Madalena, mesmo em frente da igreja.
Ora lá na escola, por vezes, havia umas festas nas quais tomavam parte algumas meninas que sabiam cantar. Eu deixava­‑me ficar muito caladinha quanto aos meus «méritos», pois tinha vergonha de os reve­lar. Até que um dia, quando se preparava uma dessas festas, uma das minhas colegas dirigiu-se à mestra e, apontando-me, revelou:
— Minha Senhora, esta menina canta muito bem!
Claro está que a professora quis, imediatamente, avaliar as minhas possibilidades e mandou-me cantar uma música que eu soubesse bem. E eu «desatei» logo a cantar um fado, daqueles bem fadistas.
A professora ao ouvir-me cantar o fado levou as mãos à cabeça e, fazendo um gesto negativo, declarou:
— Ai. Esta menina! Não… Fado não!
Depois, talvez por ver a decepção estampada na minha cara, incitou-me a cantar outra «moda» que eu soubesse. Cantei, ou melhor, comecei a cantar uma canção que sabia também, mas o pior é que mesmo a canção, na forma como eu cantava e na minha voz, soava como fado. E, de novo, a senhora me interrompeu, repetindo, um tanto ou quanto escandalizada:
— Não, fado não… Esta menina não pode cantar na festa! As meninas não cantam fado!
Escusado será dizer que fiquei com uma grande «pinha», pois cantar já era para mim uma paixão.
E começava também já a despontar em mim o desejo de representar. E chorei que me fartei.
Mas a vida continuou e eu sempre cada vez mais possuída por aquela verdadeira paixão que era para mim o cantar. E sempre que podia lá estava eu de «boca aberta» quer fosse em casa, quer fosse nas casas de pessoas amigas que me convidavam, de vez em quando, a cantar um «fadinho», quer fosse em festas particulares, onde me chamavam de propósito para eu «botar» cantiga, porque achavam que eu tinha «jeitinho».E eu ia sempre cantando e sempre a pensar no Teatro, pois nesse tempo não havia casas típicas e eu para as tabernas não ia… claro que não ia.
Até que um dia…
Estava eu em casa da minha irmã Emília (3), que morava ali em Entre Muros do Mirante, quando casualmente passou o Armandi­nho, que morava para aqueles lados e me ouviu cantar. Ou melhor, ouviu uma voz, vinda da­quele prédio. Então, subiu as escadas, bateu a porta e perguntou à minha imã, que foi quem abriu:
— Não é aqui que está uma pequena a cantar?
— É, é. É a minha irmã — re­plicou.
— Que idade tem ela?
— Olhe, tem doze anos.
— Chame­‑a lá, faz favor — vol­veu Armandinho, cada vez mais interessado.
A minha irmã, que sabia o quanto eu era acanhada, volveu:
— Ai, ela não vem.
— Chame­‑a lá — insistiu o grande Armandinho. — Olhe que ela tem uma bonita voz. Uma voz muito engraçada. Ora cha­me­‑a lá. Que eu arranjo já um contrato para ela ir gravar um disco ao «Valentim de Carvalho».
A minha irmã sorriu, pouco convencida, e explicou a Armandinho:
— Ai, ela não vai. A minha mãe não deixa.
Porém, o famoso guitarrista não se deixou con­vencer com aquela primeira negativa da minha irmã.
(3) Hermínia refere que a irmã vivia ali «Entre Muros do Mirante», à Graça, e provavelmente passava por este local quando ia para casa da irmã. Quanto à sua alusão a Rua das Flores, e como já acima referi, será lógico ser Travessa das Flores, que fica na freguesia de S. Vicente de Fora.

Gostara, sinceramente, da minha voz, da ma­neira como eu interpretava o fado e não estava disposto a desistir assim às primeiras. E então pediu licença para entrar, para falar directamente comigo.
Escusado será dizer que eu, que estivera a ou­vir toda a conversa, apareci nesse instante e, então, Armandinho dirigiu­‑se­‑me:
— Então, não quer vir cantar?
Eu claro que queria cantar, já que cantar era, pode dizer­‑se, a mi­nha vida.
Mas a verdade é que fi­quei muda e o malogrado artista prosseguiu:
— Ora vá, venha gravar um disco. Olhe, nós agora até vamos a Berlim, com o Menano e a Ercília Costa, e a menina também podia ir.
Talvez por julgar que me encon­trava a sonhar, a verdade é que per­maneci muda como um penedo, enquanto o meu interlocutor, certamente para me entusiasmar, ia pros­seguindo, tentador:
— Vá, venha que faz um «vistaço». Venha lá gravar um disco. Então não quer ir connosco cantar? Então não quer ir para o Teatro?
É claro que, se eu tinha imensa vontade de ir para o Tea­tro, naquela altura, ainda fiquei com mais. Mas não fui. Não fui com o Armandinho. Sim, não ia assim para Berlim. De maneira nenhuma...
Mas as coisas da vida nem sempre cor­rem à medida dos nossos desejos, e o mundo dá muitas voltas.
Chegou a altura em que tive necessidade de ir aprender um ofício e empreguei­‑me como aprendiza de modista. No en­tanto, o meu pensamento estava sem­pre no Teatro e no Fado. E continuei a cantar, quer pelos bailaricos, quer em festas particulares, para as quais estava sempre a ser chamada. E eu ia sempre, pois o que eu queria era cantar…


EU, QUE NÃO SOU NADA DRAMÁ­TICA,
FUI AMADORA DRAMÁTICA…

Em 1925, sempre norteada pelo grande amor que dedicava ao Teatro, inscrevi­‑me como ama­dora dramática no «Grupo dos Leais Amigos», ali ao pé da igreja de S. Vicente. O que eu queria era representar e tanto assim que representei coi­sas dramáticas, eu que não sou nada dramática... Mas tal era a fúria de ser artista... que tudo me servia.
Em 1926, representei e cantei no antigo Teatro Gil Vicente, à Graça. Foi ali que, certo dia, apareceu um senhor que era escritor, Artur Vítor Machado de seu nome. Esse senhor levou­‑me à presença do pai, o maestro A. Júlio Machado, que era empresário, e foi logo assim, que ainda nesse ano me levou numa tournée à província.
Era tal a minha gana de vencer, que me comportei de tal modo que, no início desse giro artís­tico, o meu nome figurava nos cartazes em último lugar e quando regressámos eu era já a primeira figura.
Terminada essa tournée que foi, pode dizer­­‑se, o início da minha carreira como profissional, fui trabalhar para um cinema, ali à Esperança, o «Malacaio». O contrato por oito dias que me fizeram era para cantar fados no final da exibição dos filmes.
Mas a verdade é que o público me dispensou tantas gentilezas, me acolheu e adoptou com tanta e tão grande simpatia, que esses oito dias se transfor­maram, quase sem que déssemos por isso, em dois anos.É verdade: durante dois anos consecutivos actuei no «Malacaio» em final de festa. E sempre com o pleno agrado do público frequentador da­quele cinema que não me regateou o seu apoio e os seus aplausos. Ainda hoje conservo no coração a simpatia daquele pú­blico. Foi Rui Metelo, um empresário muito co­nhecido na época, que me proporcionou esse contrato.

O PARQUE MAYER

Quando finalmente deixei de cantar no «Malacaio», fui para o Parque Mayer. Ali os estabelecimentos de far­turas tinham, ao tempo, grande clientela, estavam em voga. Ali se cantava o fado. Pode dizer­‑se que essas casas foram as percursoras das casas típicas que hoje conhecemos.
Ora, quando fui para o Parque Mayer, era contratada pelo «Valente das Farturas». Este contrato, tal como acontecera com o cinema da Esperança, era por oito dias. Mas tal como aconteceu no «Malacaio», esses oito dias prolongaram­‑se por mais dois anos.
Nessa altura, eram frequentadores assíduos no «Valente das Farturas» a grande maioria dos artistas de então, que trabalhavam nos Teatros do Parque Mayer. Muitos deles já iam lá especialmente para me ouvirem, pois gostavam da minha maneira de cantar. O meu salário então já era de cinquenta e cinco escudos diários, o que para o tempo era um grande cachet, mesmo tendo em consideração que chegava a ter seis sessões diárias.
Entre os muitos artistas que fre­quentavam assidua­mente o «Valente das Farturas», que se tornara o palco onde eu dava livre curso ao meu íntimo desejo de cantar, contavam­‑se dois artistas de grande cartel na época, que trabalhavam no Teatro Maria Vitória, que eram o Alberto Ghira e a Hortense Luz, e certo dia vieram falaram comigo, convidando­‑me a ir para o teatro. Mas eu ganhava ali muito bem, embora o teatro fosse a minha grande paixão, eu não ia trocar o certo pelo duvidoso. Foi, pois, embora contrariada, que lhes disse que não acei­tava.
O Alberto Ghira ainda voltou a insistir, mas continuei a recusar, com o mesmo fundamento de que me sentia ali bem e ganhava uma pequena fortuna, mas disse logo que no dia em que deixar de trabalhar aqui irei para o Teatro, se ainda me quiserem lá.
E, assim, se gorou a primeira grande oportuni­dade­ para eu entrar para o Teatro de Revista e dele fazer o centro da minha actividade artística.
Como já tive oportunidade de frisar, também no «Valente das Farturas», tal como acontecera, ante­riormente, no Cinema em que actuei em fim de festa, mantive­‑me dois anos consecutivos, merecendo sempre, devo reconhecê­‑lo, o carinho do público, que aliás eu fazia por manter, dando tudo quanto tinha dentro de mim, sempre que cantava, o que acontecia, como também já disse, muitas vezes em cada dia.
Mas certo dia tive mesmo que parar de cantar, porque tive uma grande constipação nas cordas vocais que me pôs bastante «à rasca», durante mais de um ano. Foi com imensa tristeza, pois como já sabem, o cantar era o maior gosto da minha vida, e além disso tinha passado a ser a minha fonte de subsistência (4).

(4) Estava­‑se em finais de 1926 e Hermínia estava grá­vida; seu filho Mário Silva vem a nascer em 9 de Abril de 1927.
Grande constipação..!, Herminia não fala da sua gravidez nesta altura, pois tem que manter a "credibilidade" da idade que diz que tem e que a sua figura muito miúda aparenta. Em 1926 tem dezanove anos, mas afirma que tem 15, esta diferença com os anos passa para menos 7 anos, por isto toda a gente fazia as contas e julgava que ela tinha nascido em 1913.

POR FIM O TEATRO DE REVISTA

Quando, finalmente, recuperei da doença, roidinha de sau­dades de cantar e do contacto com o meu querido público, que sempre me acarinhara, fui trabalhar para uma Sociedade de Recreio que, se não estou em erro, era o «Comando-Geral». Foi aí que, certo dia, o co­nhecido empresário Ma­cedo e Brito me abor­dou, dizendo­‑me que, conhecendo o meu valor achava que eu devia voltar era a cantar. Prometeu­‑me que me ia arranjar uma entrevista com o empresário de teatro António de Macedo.
Passados poucos dias confirmou­‑me a marcação da entrevista; fiquei entusiasmada, não podia perder esta nova oportunidade de ingressar no Teatro, que era o sonho doirado da minha vida, e logo fui falar com o António Macedo, que me contratou imediatamente, para actuar em fim de festa, cantando fados — claro está — na opereta «Fonte Santa» (1932).
O público voltou a corresponder inteiramente, aplaudindo­‑me com simpatia, e foi graças a esse mesmo público que, logo de seguida, fui contratada para fazer uma revista, que se intitulava Feijão­‑Frade (1933), que era um original de Xavier de Magalhães, Almeida Amaral e Fernando Santos. E esta foi a primeira revista em que eu entrei.
Foram assim na realidade os meus primeiros passos a sério com o teatro de revista, e a verdade é que, sem vai­dade, fiz um autêntico brilharete.
De então para cá tomei parte em inúmeras revistas, assim como numas quantas operetas, e até em peças declamadas.
A minha carreira continuou, felizmente, com grandes êxitos, que, certamente, eu não merecia, mas o público me quis oferecer.
Também actuei nos estúdios da RTP, a última vez foi num dos episódios da série Os Três Saloios, protagonizada por Raul Solnado, Humberto Madeira e Emílio Correia, três valores do nosso teatro ligeiro.E devo confessar que gostei.
Tive, ao longo da minha carreira, como é natural, muitas e variadas pro­postas para ir ao estrangeiro, mas como sou multo «pegada» a isto.
Tenho muita relutân­cia em sair de Portugal, eu ainda nem sequer visitei as províncias ultramarinas, apesar dos muitos convites que para o efeito me têm endere­çado e do grande desejo que te­nho de as conhecer.
— Fui ao Brasil, onde me demorei o menos tempo possível, aos Açores e à Madeira, onde fiz uma curta série de espectáculos.
Herminia Silva desde a sua estreia em 1932, participou em 13 operetas, 37 revistas, 2 peças declamadas e ainda em 5 filme e vários programas de televisão.

Conclusão do autor:

Hermínia, sem sombra de dúvidas, nasceu a 23 de Outubro de 1907, no Hospital de S. José, freguesia do Socorro, em Lisboa.

O episódio que contou sobre ter caído da janela à rua refere­‑se decerto à rua onde sua mãe morava quando do seu nascimento, Rua do Benformoso, 53, 1.º, freguesia dos Anjos, em Lisboa.

Tudo leva a crer que sua irmã morava na Travessa das Flores, freguesia de S. Vicente de Fora, em Lisboa, enqua­drando­‑se assim com toda a lógica o episódio em que conta como o guitarrista Armandinho a ouviu cantar."

© Vítor Duarte Marceneiro
Autorizada a utilização desde que seja mencionada a autoria.

domingo, junho 08, 2008

ERMELINDA VITÓRIA - "O meu Portugal"




VÍDEO DE HOMENAGEM


Gravado em 1929, este fado cantado por Ermelinda Vitória(1892-198 ), uma das consagradas cantadeiras que pertence à História do Fado das primeiras décadas do séc. XX, encontra-se no Vol.I - Fado de Lisboa (1928-1936), da colecção "Arquivos do Fado", editada em Portugal pela Tradisom , de que é Director José Moças.

"Meu país é Portugal / de beleza sem rival / com o céu da cor de anil / Nesse pequeno tesoiro / cai o sol em chuvas d'oiro /dando à terra graças mil"...

É interessante recordar, a/de propósito, que Ermelinda Vitória, uma cantadeira de renome na sua época e que foi companheira do grande violista e compositor Georgino de Sousa, acabou os seus dias como empregada de limpeza d' A Brasileira do Rossio...

domingo, outubro 28, 2007

ERCÍLIA COSTA - "Santa do Fado"





"As pessoas ouviam-na e choravam, Ercília cantava também com as lágrimas nos olhos. Era um fenómeno de comunicação. A sua voz tinha algo de tragédia grega, a sua expressão era, diziam, a de uma santa. Assim nasce o nome de "Santa do fado", explica Eduardo Damas, autor com E. Costa deste seu fado emblemático .

quinta-feira, julho 19, 2007

FILIPE PINTO - "Minha mãe foi cigarreira"




Filipe Pinto canta, de sua autoria, esta letra em que sobressai algum jogo de palavras e em que, provavelmente para os mais novos, fica a interrogação do que seria isso de se ser cigarreira!?...

BrancoeNegro1897