Na sequência do meu último post e a propósito do comentário da fadista Valéria Mendez que refere ter ainda sido acompanhada pelo Martinho d'Assunção, numa noite para esquecer (já li o Post), fui procurar, nalguns livros que tenho sobre fado, a informação do ano da morte do Prof. Martinho, uma vez que, embora eu tivesse a ideia que teria sido nos finais da década de oitenta, início da década de noventa, não sabia exactamente qual o ano.
E assim é que, no livro Histórias do Fado (1999), Ed. Ediclube, de Maria Guinot, Ruben de Carvalho e José Manuel Osório, encontrei, a pgs. 366, a informação de que o violista e compositor em apreço nasceu em Lisboa em 1914 e morreu em 1992, na mesma cidade. Por curiosidade, continuei a ler o apontamento biográfico e, mesmo a terminar, leio esta coisa extraordinária: "Foi casado com a cantadeira Berta Cardoso." Extraordinária afirmação esta, não porque não pudesse ser verdade ou fosse facto fora do normal, mas porque produzida por responsáveis que deveriam ter por objectivo principal informar correctamente ; de facto, Berta Cardoso nunca foi casada, embora tivesse sido mãe. Os autores, que, de resto, tiveram acesso aos Arquivos da Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, onde se encontra o espólio de Berta Cardoso, bem podiam tê-lo consultado a fim de fazerem um trabalho sério e rigoroso. Mas não, não ficou por aqui o disparate. No mesmo Capítulo, o V - Vidas, pode ler-se também, a pgs. 292 e 295, uma breve biografia de Berta Cardoso, podendo registar-se as seguintes incorrecções:
"Nasceu em 1913 e faleceu em 1994"; não, meus senhores, nasceu em 1911 e faleceu em 1997.
"...deu voz a vária criações que ficaram famosas, referindo-se entre elas...Saudade Vai-te Embora e Eu Quero Amar Perdidamente"; não, meus senhores, embora sendo muito verdade que Berta Cardoso tenha dado voz a várias criações que ficaram famosas, não foi a criadora destas duas, das que se indicam; o seu a seu dono!
E, finalmente, para acabar em grande, sabendo nós, como já sabemos, que Berta Cardoso não foi casada com Martinho d'Assunção, nem sequer nunca viveu maritalmente com o violista, dar-nos-ia uma imensa vontade de rir o último parágrafo desta biografia, que a seguir transcrevo, se, efectivamente, esta coisa de escrever acerca da vida dos outros não fosse assunto sério e nos não merecesse todo o respeito. Ora leiam lá:
"Casada durante vários anos com o violista Martinho d'Assunção, a sua qualidade interpretativa reflecte favoravelmente o convívio e trabalho frequente com o que foi um dos mais influentes músicos do Fado, nomeadamente da desenvoltura e perfeita dicção que a cantora aplicava a estruturas métricas complicadas como Fados Triplicados, de rimas obrigatórias."
Esta é que é mesmo de mestre!... Mas agora pergunto eu - o que terá a ver a qualidade interpretativa da intérprete com o facto de ter estado, que não esteve, casada com o músico? Será que, estando-se casada com um músico, por osmose, se canta melhor? Haverá algum tratado científico, acerca desta matéria, que eu desconheça? Será que o Carlos do Carmo, que também tem uma "desenvoltura e perfeita dicção", terá estado também casado com o professor ou terá sido antes com a Berta Cardoso ?
Ora se fossem aprender primeiro para ensinar depois!.............