quinta-feira, dezembro 30, 2010

VARINAS

I.P. 1906

Uma homenagem real às "Varinas", rainhas também, mas cujo "«Paço» é na Ribeira, / Na fragata ou na falua,...", como escreveu o poeta "popular" Linhares Barbosa e Manuel Calixto tão bem interpretou

http://fadocravo.blogspot.com/2008/12/manuel-calixto-varinas.html

Na mesma música (embora no disco se atribua a autoria a Raul Campo Grande...), Artur Batalha interpreta "Essa varina", do poeta "popular" e também fadista António Rocha


Mas também os poetas "cultivados", como diria Vasco Graça Moura, celebraram esta figura tão própria de um país de marinheiros... entre eles, Fernanda de Castro, num belo poema que Frei Hermano da Câmara musicou e interpreta

http://fadocravo.blogspot.com/2010/08/varinas.html


assim perpetuando a memória dessas mulheres que embelezavam todas as "Ribeiras" -

"A cadência sensual das suas ancas / Tem a forma das ondas no mar alto"

e que têm como paradigma possível "A Rosa da Madragoa", esta numa castiça interpretação de Raquel Tavares



estoutra, de J.Frederico de Brito, que Fernanda Maria magistralmente interpreta no Fado Seixal


E é com este cheirinho a maresia, que encerro a minha actividade de 2010, neste blogue, e desejo a todos os amigos e aos inimigos também (que bem precisam) uma muito boa onda para o difícil ano que se aproxima; porém, se tiverem que "mostrar quem manda" não hesitem em fazer uma enorme peixeirada (que muito alivia o stress) e até, porque não, "amandem c'uma chaputa" à tromba de qualquer um ... É mesmo a única linguagem que muitos deles ainda entendem e respeitam... Se persistirem em ser, como eu, very polite, verão como vos enrolam a torto e a direito com doces palavrinhas... Mas, p'ró ano, tudo vai ser diferente, aposto; sou até capaz de arriar a giga nas mais improváveis ocasiões e nos mais very refined places... Nestes tempos, uma lady também se passa, ora essa! Tal como um gentleman... lembram-se do rei de Espanha? Ora bem!...

Cheia desta gentinha!...

Vivam as Varinas!

Bom Ano, então! BONS FADOS!

sábado, dezembro 25, 2010

Prendinhas de NATAL


Todos os anos me acontece esta coisa singular de ter sempre mais prendas do que esperava... deve ser por nunca esperar seja o que for, mas, claro, fico agradada por se lembrarem de mim e me reabastecerem daquelas gulodices, lambarices e mezinhas que se dão aos que já vão tendo mais do que a conta... até mesmo porque os chocolates, dizem, estimulam o cérebro e tudo o que é serotoninas e endorfinas e tal, o que me ajuda a manter aquela boa disposição que todos conhecem e aquela risada tão verdadeira que, a uns aterroriza, a outros contagia... Acabo de descobrir que, muito provavelmente, abusei até da dose diária porque estou a falar de mim, coisa invulgar e desinteressante, mas vou controlar-me e partilhar convosco a notícia de apenas duas das prendas que tive, até porque são públicas, no exacto sentido da palavra.

A primeira foi, por certo, o facto de este blogue ter alcançado, em um ano, 100.000 visitas o que pode até não ser muito, comparativamente a outros blogues, mas, para mim, é fantabuloso! Comentários e seguidores é que são muito poucos, mas, de facto, depois de ler os meus espantásticos verbetes, poucos têm pedalada para ripostar, ora bem! :-), isto por um lado, por outro, muitos não querem que se saiba que sequer conhecem este blogue onde vêm beber a informação e as ideias que depois comercializam como suas, verdade? :-) Ralada não fico, mas triste, com a cada vez maior desonestidade intelectual que prolifera neste rectângulozinho à beira mar plantado... Seja como for, que a minha vida é outra, saudações cordiais e fadistas a todos quantos por aqui passam e votos de que continuem a ser fregueses, mesmo para vosso bem, porque, por cá, há sempre novidades antigas... Presunção e água benta!...

A segunda prenda que tive este Natal, porque só há dias dei por ele, foi, sem dúvida, o recauchutado site do Museu do Fado. Até que enfim! Está para melhorar e alimentar, sem dúvida, mas já é alguma coisa. Se ainda não deram por isso, embora eu o tenha logo linkado aí ao lado esquerdo, ele aqui está. Já dei por lá com alguns gatos (este e estoutro, por ex.) e as funcionalidades não estarão todas ainda a funcionar (não consigo abrir mais informação, clicando na foto das "personalidades"), mas, olha, isso sou eu que tenho esta particular virtude de me cair a lente logo, logo, em cima do erro... a lente e, se calhar, não só...:-) . Contudo, é melhor que nada e lacuna que tardava remediar... Por isso, ao trabalho!, que uma sou eu só e a Fadoteca cresce diariamente e com alguma matéria também em Espanhol e Inglês...

Por tudo isto e o mais que não direi, a todos e todas (como ora soi dizer-se) os meus públicos agradecimentos!

segunda-feira, dezembro 20, 2010

"É NATAL"

Há 82 anos nascia, no Barreiro, aquele que foi um notável fadista e autor, Fernando Farinha; este fado, com que hoje o lembro, mais uma vez, é de sua autoria e de Artur Ribeiro.

A todos desejo que seja sempre Natal !

domingo, dezembro 19, 2010

FLADO II

I.P.

J.Dantas - Ilust. Manuel Gustavo

De braço dado, Portugal e Espanha, flamenco e fado, ai! olé!...

domingo, dezembro 12, 2010

ANTÓNIO MENANO - "O Beijo"

G.P.
Um outro Fado, o de Coimbra, na voz de um dos seus máximos expoentes, o Dr. António Menano, "um dos "magníficos" da Década de Oiro"...





O BEIJO
Música: Ruy Coelho (1892-1986)
Letra: Afonso Lopes Vieira (1878-1946)
Incipit: À minha amada, na praia
Origem: Lisboa
Data: 1917

À minha amada, na praia
Dei um beijo, a sós e a medo;
Mas a onda que desmaia
Foi contar o meu segredo.

E às outras logo contando
O beijo que me viu dar,
Foi de onda em onda passando
O meu segredo, a cantar.

Treme ansioso o teu seio,
E eu, pálido de temor:
Que todo o mar anda cheio
Daquele beijo de amor!

Cantam-se as estrofes de seguida sem repetir verso algum.
Esquema do Acompanhamento:
1º Dístico: Lá M, Dó# m, Ré M 2ª Lá, Lá M;
2º Dístico: Ré M, 2ª Si, Si m 2ª Lá, Lá M.

Informação complementar:
A música deste lied tem sido indevidamente atribuída a António Menano, mas é de Ruy Coelho (1892-1986), compositor nacionalista, posicionado na esteira dos contributos teóricos de Teófilo Braga, César das Neves, Rey Colaço, Antero da Veiga, Raul Lino e Afonso Lopes Vieira. As posteriores ligações ao ideário salazarista não lhe grangearam boa fama junto das elites triunfantes após 1974.
Lied gravado em Maio de 1927 pelo barítono profissional activo em Lisboa Edgar Duarte de Almeida, com acompanhamento de piano (Disco Columbia, 8108, master P 168); no disco vem correctamente o nome de Afonso Lopes Vieira, como autor da letra, e de Ruy Coelho, como autor da música. No verso do dito disco vem um outro lied, intitulado O Fado (Quem te deu tanta tristeza), letra de António Botto, música de Nicolau de Albuquerque.
António Menano gravou esta bela ária em 1927, em Paris (Discos ODEON, 136810 e A 136810, master Og 577), cantando-a em Lá Maior. Posteriormente, em 1986, foi reeditada em LP, no II Volume do álbum duplo, sob o título Fados de Coimbra de António Menano. Em Setembro de 1996 a EMI-Valentim de Carvalho editou o 3º CD sobre António Menano, sub-título Canções, que inclui O BEIJO.
A letra de Afonso Lopes Vieira encontra-se a págs. 266 e 267 do livro Os Versos de Afonso Lopes Vieira, “Cancioneiro III, Canções de Amor e Saudade”. A letra que se apresenta é a cantada por António Menano e é ligeiramente diferente da que consta no dito livro, cujo 4º verso é “Descobriu o meu segredo” (em vez de “Foi contar”). A composição remonta a 1917, tendo sido publicada em 1918 pelo autor num raro livreto, intitulado “Canções de Saudade e Amor”.
Gravado por António Bernardino em 1966, acompanhado à guitarra por António Portugal e Manuel Borralho e, à viola, por Rui Pato (EP Alvorada, AEP 60817); no disco a autoria é atribuída a António Menano. O arranjo de acompanhamento concebido por Portugal é digno de referência. Bernardino interpreta este lied em Mi Maior e procede a estropiamentos da letra (4º verso da 1ª quadra, 2º verso da 2ª quadra e 3º verso da 3ª quadra). Disponível em long play pela Rádio Triunfo, em 1985 (LP AQUILA AQU 02-49, sob o título genérico Vários – Fados de Coimbra), que também dá a autoria da música a António Menano. Disponível em compact disc: CD Fados de Coimbra – N.º 45/O Melhor dos Melhores, Movieplay, MM 37.045, editado em 1994; CD Serenata Monumental, Lisboa, Movieplay, MOV 30. 487, ano de 2003, CD 2, faixa nº 11, com identificação correcta de autorias.
Gravado pelo Grupo Académico Serenata (do Porto), com Victor Silva no canto, Engº. Cunha Pereira e Jorge Carvalho nas guitarras e Dr. Carlos Teixeira e Arnaldo Brito nas violas, editado pela Movieplay em 1986 (LP ORFEU LPP 44, sob o título Fados de Coimbra – Grupo Académico Serenata), que também indevidamente atribui a música a António Menano.
Gravado em cassete pelo Grupo de Fados de Coimbra Toada Coimbrã, Movieplay, ano de 1992.
Gravado em compact disc por Carlos Pedro: CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, Secção de Fado/AAC, CD-SF 005, ano de 1995, Faixa Nº 5, acompanhado por Pedro Anastácio/Nuno Cadete (gg) e António Paulo (v). Neste registo, Carlos Pedro segue a matriz fonográfica de António Menano e no 3º verso da 3ª quadra introduz um “de”: «Que [de]todo o mar anda cheio». A autoria é erradamente atribuída a António Menano.

terça-feira, dezembro 07, 2010

ALCINDO CARVALHO - "Vielas de Alfama"

VÍDEO DE HOMENAGEM

Soube, há um par de horas, que Alcindo de Carvalho foi hoje a enterrar; é uma das vozes fadistas que sempre muito apreciei, e que ouvi em vários espectáculos e casas de fado, particularmente em Alfama; talvez por isso, tenha escolhido este fado, que tão bem interpreta, para lhe prestar mais esta homenagem.

sábado, dezembro 04, 2010

"Ovelha negra" - BEATRIZ DA CONCEIÇÃO - FLORA PEREIRA

Um belíssimo fado, com letra de João Dias, duas interpretações de excepção - a de Beatriz da Conceição, que integrou este fado no seu repertório (embora tenha sido escrito para uma antiga fadista- Emília Reis -que foi também a sua criadora); a de Flora Pereira, que o recriou e em boa hora o gravou.




Chamaram-me ovelha negra / Por não aceitar a regra / De ser coisa em vez de ser / Rasguei o manto do mito / E pedi mais infinito / Na urgência de viver

Caminhei vales e rios / Passei fomes passei frios / Bebi água dos meus olhos / Comi raízes de dor / Doeu-me o corpo de amor / Em leitos feitos escolhos

Cansei as mãos e os braços / Em negativos abraços / De que a alma foi ausente / Do sangue das minhas veias / Ofereci taças bem cheias / À sede de toda a gente

Arranquei com os meus dedos / Migalhas de grão, segredos / Da terra escassa de pão / Mas foi por mim que viveu / A alma que Deus me deu / Num corpo feito razão.