Ah!, pois é!..........
Na revista «Cartaz de Lisboa» (1937), a letra que a seguir se transcreve, da autoria de J.Linhares Barbosa, foi um enorme sucesso na voz de Berta Cardoso:
Resposta a tempo
Em certa escola dum país 'strangeiro,
O mestre chama ao atlas um petiz
E diz-lhe: meu rapaz, com o ponteiro
Aponta nesse mapa o teu país.
O garotinho, então, não se embaraça...
Olha a carta da europa... e no final,
Orgulhoso, gentil, sereno, traça
Todo o nosso país continental.
Retorque o professor: - a tua terra
Julguei que fosse uma nação tamanha...
Tamanha como a França, ou a Inglaterra,
Como a Itália ou como a própria Espanha!...
Torna o garoto para o mestre-escola:
- Temos colónias, essas maravilhas;
Moçambique, Timor, Macau, Angola
E temos além disto muitas Ilhas !...
Pode sentar-se, diz-lhe o professor.
Todos sorriem desdenhosamente,
Mas o petiz... «Geraldo Sem Pavor»
Encara todos, rude, frente a frente.
E diz: - podem sorrir à farta, gargalhar
Porque o vosso despeito não me ofende.
É certo: «Quem desdenha quer comprar»...
Mas o meu Portugal nunca se vende.
Pobre petiz! Como estava enganado!...........
2 comentários:
L.Barbosa tem 'coisas' muito boas, mas francamente estes versos, para mim, são horriveis...mas é no fundo aquela mentalidade 'patrotica que se vivia no tempo. Interessante como documento...
Agora esa tal frase do 'fado é qu'induca', tirada de Revista conhecida, teve em muitos uma certa verdade.Eu por exemplo, se não fosse o Fado, não teria conhecido certos nomes da Poesia...Já Amália dizia o mesmo.
Abraço
Valeria Mendez
Quer queiram, quer não, o fado é /foi um veículo de cultura e expressão da cultura popular.Este texto é exemplo disso e, por mais horrível que se possa achar,documenta uma época - nos anos 30, provavelmente a maior parte dos portugueses teriam, do seu país, este orgulho... tanto mais que o texto foi cantado numa revista, que era uma forma de arte popular, e foi um enorme sucesso, como se diz.
O Fado foi, para muitos, um meio de ascenderem a formas de cultura mais clássica/institucionalizada. Não sei a quem se deve a frase: "O fado é qu'induca...", cujo objectivo seria achincalhar a canção nacional, os fadistas e amantes do fado e ... pinga /tintol.
Não sei a quem se deve tão brilhante frase, mas porventura a algum português precursor de todos os que instituiram como canção nacional todas as de expressão francófona, anglo-saxónica e afro e acham que a nossa cultura tem a ver com dreads, raps e hip-hopers, mas que achavam/acham que o fado era/é coisa de tabernas e de gente de submundo...
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