quinta-feira, abril 25, 2013

"Povo acima dos partidos" - JOÃO DIAS


João Dias é um dos meus preferidos poetas de fado. Um poeta que me parece bem homenagear no dia de hoje e com este fado. Nunca as palavras do Poeta terão sido tão a propósito... Aqui fica, pois, neste conturbado 25 de Abril, este Fado que dedico particularmente ao Parlamento e ao P.R., a lembrar que o povo, a Pátria, está acima dos partidos, pormenor de que parece ter-se esquecido o Presidente que devia ser de todos os Portugueses...
As palavras são de João Dias, o "poeta maldito". Dele, lembro alguns dos seus mais conhecidos fados "Ovelha negra", Rosa da Madragoa", "Eu sou povo e canto esperança" e muitos outros, mas hoje, acima de todos, recordo este "Povo acima dos partidos", interpretado por Rodrigo numa música de José A. Sabrosa,  sublinhando ainda que o Fado é muito mais do que a "cantiga da desgraçadinha", embora, de facto, nos encontremos presentemente numa completa desgraça!... Afinal, o Fado é, por vezes, também uma canção com mensagem...
 Rodrigo é acompanhado pelas guitarras de António Chainho e Nobre Costa, a viola de José Mª Nóbrega e a viola-baixo de Raúl Silva.

domingo, março 31, 2013

FADO LOUCURA - O SEU A SEU DONO !
















Há bocado, estava ali a ler as declarações de um fadista com grandes responsabilidades, porque é uma referência, e fiquei surpreendida; afirma ele que o fado Loucura, da autoria de Júlio de Sousa, foi o primeiro que cantou porque era um fado de sua mãe...
Ora, que eu saiba, a mãe do referido fadista só começou a cantar uns anos após Berta Cardoso, já esta era primeiro nome de cartaz e merecera o cognome de "A Loucura dos Fadistas", exactamente devido à sua brilhante intrepertação daquele fado - "Berta Cardoso fez do Fado da Loucura uma verdadeira loucura..." (in Guitarra de Portugal, nº 211, 1930) !...
É lamentável que, pelo menos, não se respeite a verdade histórica ... Já que, por qualquer obscura razão, se teima continuadamente em omitir o nome de uma das maiores fadistas do séc. XX: Berta Cardoso.

(Clique sobre a imagem, para ampliar)

(verbete de 29.12.2005, reeditado)

MARIA ALICE - "Fado Loucura"



Vem este brevete a propósito do mais recente verbete do blogue "Soldado do Fado" onde nos é dado ouvir um dos fados das primeiras gravações, entre 1929 e 1931, de Mª Alice, disponibilizado em CD na Colecção "Arquivos do Fado", pela Tradisom; o fado "Vida Triste", tem letra de J.F. de Brito e é, nem mais nem menos, do que o Fado Loucura, música de Júlio de Sousa.



Aqui se confirma o que afirmei no meu anterior verbete, de Dezembro de 2005, e agora ratifico, acrescentando que seria de todo impossível ser este um fado de Lucília do Carmo, que o gravou, é certo, mas que só começou a cantar uns anos após a criação deste fado e cuja criadora também não foi Berta Cardoso, apenas foi a voz que o tornou mais conhecido e que mais conhecida ficou através dele. Os senhores estudiosos e investigadores de Fado, que muitos já são, sabem por certo a quem me refiro...
Como ora sói dizer-se, isto é assim e contra provas, não há argumentos... e provas há!
Relativamente às biografias, desta/e e doutras/os fadistas, que pululam em diversos blogues, sem devidamente indicar, em grande parte dos casos, a proveniência, as fontes, e que eu, ora transcrevo indicando o blog, ora linko, quase todas têm como fonte, ou o precioso livro de Victor Machado, editado em 1937, ou, noutros casos, a esforçada obra de Eduardo Sucena, de 1992; esta situação verifica-se igualmente a nível editorial, o que é mais grave, em obras posteriores àquelas datas, em que as biografias apresentadas pouco têm de investigação ou de inovação; são, praticamente, pouco mais do que cópias daquelas! Sei do que falo...
A assim ser, aqui têm a biografia de Mª Alice, a verdadeira, a elaborada por Victor Machado e constante do seu livro "Ídolos do Fado", a que aqui já me referi e a que agora volto a fazer referência... 
Nunca será demais!...
(verbete de 23.08.2009, reeditado)

"Saudade, vai-te embora" - JÚLIO DE SOUSA


VÍDEO DE HOMENAGEM

Creio que poucos conhecerão este registo fonográfico de Júlio de Sousa, interpretando uma das suas composições de maior êxito "Saudade vai-te embora"... Vem este vídeo a propósito do dia de hoje, em que Berta Cardoso, a sua intérprete de eleição, comemoraria o seu 98º aniversário.

(verbete publicado em 21.10.2009, reeditado)

DINA DO CARMO - "Oferece o teu amor"

VÍDEO DE HOMENAGEM

OU

Com este fado, do multifacetado artista Júlio de Sousa (1906-1966), que foi igualmente um notável letrista e compositor de Fado, lembro a criadora de um outro fado - "À Beira do Cais", a fadista Dina do Carmo.


(verbete publicado em 26.12.2009, reeditado)

SANDRA CORREIA - "Loucura"



Às vezes até pode parecer que vivo noutro tempo..., mas não!, claro que também conheço e admiro alguns dos actuais fadistas... como é o caso desta jovem Sandra Correia que aqui tão bem interpreta esse sempre fantástico "Fado Loucura", um pilar do Fado, e cujo trabalho pode ficar a conhecer melhor aqui e aqui. É mesmo do Fado, esta fadista do Norte!

(verbete de 30.01.2011, reeditado)

CARLOS BASTOS - "Chaves da Vida"




No Fado Varela, de Reinaldo Varela, Carlos Bastos interpreta "Chaves da Vida" de Júlio de Sousa

(verbete de 20.08.2011, reeditado)

"Loucura" - FRANCISCO JOSÉ



O fado "Loucura", de Júlio de Sousa, interpretado por Francisco José.


D.P.1950

(verbete de 12.09.2011, reeditado)

O FADO EM TRAPO


Pan.42

Já aqui lembrei, por várias vezes, Júlio de Sousa (1906 - 1966), esse artista multifacetado, autor de fados célebres, tais como "Loucura", "Sou do Fado", "Saudade, vai-te embora...", "Vim para o Fado...", "Chaves da vida", "Caminhos", "Não digas a ninguém"...
Volto hoje a recordá-lo na sua faceta, talvez menos conhecida, mas não menos importante, de caricaturista e escultor (em trapo)
Sec.Ilust.47

E, outra vez, o "Loucura", agora interpretado pela castiça Maria Emília



(verbete publicado em 22.06.2012, reeditado)

quarta-feira, março 06, 2013

"LOUCURA"


D.L., 1933

Gostaria de não me tornar enfadonha por vir lembrar, uma vez mais, esse "rapaz, pálido e romântico, de camisa negra à italiana, que pouco fala e aparece, sem camaradagens que o exaltem, nem amigos que o façam triunfar", mas, se o faço, é porque ele "merece, como poucos, a classificação de artista, hoje tão banalizada e desfigurada."... Um artista polimórfico, um esteta, um solitário.
"A sua alma profunda, de silenciosa sensibilidade", o seu talento, legaram-nos fados que continuam a ser verdadeiros êxitos e, se é possível dizê-lo, autênticos ex-libris fadistas.

Dos que já aqui lembrei, volto a recordar o "Fado da Loucura", de que Mariamelia, sua irmã, foi a criadora e gravou, fado cuja letra é de Frederico de Brito, mas cujo refrain é de Júlio de Sousa, igualmente autor da música. Como também já referi em verbete anterior, este fado veio a tornar-se um enorme êxito, não pela voz da sua criadora, mas pela de Berta Cardoso, que "fez do «Fado da Loucura» uma verdadeira loucura" e, por isso, lhe chamaram "A loucura dos fadistas". Depois dela, muitos outros/as cantaram esse fado e cantam ainda. Relembremo-lo, porém, nas interpretações de Lucília do Carmo e de Fernando Maurício.











Ora acontece que, dado o espantoso êxito obtido, Júlio de Sousa terá escrito, para Berta Cardoso, outra letra para esta sua música em que a fadista era exímia. Berta foi, pois, não só a grande especialista do Fado da Loucura, como igualmente a criadora desse fado com a letra que muitos fadistas também têm cantado e gravado e que aqui vamos lembrar interpretado por Mariza e por Carlos Zel




Depois, e à semelhança do que acontece com muitos outros fados, outras letras incorporaram a música do "Loucura"; por exemplo, o Britinho, co-autor da letra original, como já referi, escreve, para a Mª Alice, a letra "Vida Triste", que podem ouvir aqui.

Mas, a verdade é que, até hoje, quando se fala no "Loucura" ou no "Fado da Loucura" se associa de imediato a este fado as letras que Júlio de Sousa escreveu, seja a sós, seja em co-autoria. E interessante é verificar que, quer o "É loucura...", quer o "Sou do fado...", têm vindo a fazer parte do repertório de grande parte dos fadistas e, mesmo quando isso não acontece, todos acabam por ceder à tentação de cantá-lo, como se fosse, digamos assim, um fado obrigatório. De facto, haverá letra que melhor apresente um/a fadista ?

Sou do fado como sei, / Vivo um poema cantado / Dos fados que eu inventei.

«É Loucura» oiço dizer / Mas bendita esta loucura / De cantar e de sofrer

Assim parece ser, mesmo para os estrangeiros que cantam o Fado



(Verbete de 20.05.2011 reeditado)

quinta-feira, setembro 06, 2012

BERTA CARDOSO - "Testamento"


Em 2006, no Museu do Fado, esteve patente uma exposição sobre BERTA CARDOSO, actriz e cantadeira, uma das mais importantes personalidades da História do Fado do séc. XX.
A exposição foi um sucesso, tendo sido primorosamente organizada, como pode constatar-se pelas fotos que integram o vídeo.
Não será demais agradecer, ainda uma vez, a dedicação e empenho de todos que colaboraram neste projecto, nomeadamente à responsável pelo Museu do Fado. Bem Haja!

Com este fado -"Testamento", da autoria de João Redondo, na voz de Berta Cardoso, despeço-me, neste espaço, de todos que seguiram este blogue (cujos verbetes continuarei a actualizar), agradecendo a atenção e os comentários.
Continuarei aqui, onde vos espero.

sábado, agosto 25, 2012

BERTA CARDOSO - "O Homem da Berta"


...

Quando, no início da década de 50 do século passado, Berta Cardoso estreou este fado, o nosso mundo rural não era ainda, como hoje o é, uma espécie em extinção... A desertificação do Portugal profundo, o abandono das terras, a busca de uma outra vida nos meios urbanos, dentro e fora do país, ainda não ocorrera. Nesse tempo, as pessoas, mesmo as mais citadinas, conheciam bem essa outra realidade regida, mais pelas leis da Natureza do que pelas dos homens... E, assim, melhor entendiam e, portanto, respeitavam, esse mundo que tanto, obrigatoriamente, difere do citadino onde, quando chove, se pode mesmo assim calçar sapato de polimento, porque se anda na calçada... Nesse tempo, que era ainda um tanto o que a Severa vivera, as letras do Fado contavam histórias, descreviam personagens, que eram o elo de união entre esses dois mundos; mais, o Fado institui precisamente, como mito fundador, a Severa (uma personagem dos bas-fonds urbanos) e a história dos seus (des)amores por um fidalgo, que obviamente personifica o mundo rural, às portas da Cidade; é nesse mundo rural que se inscreve e escreve a ligação desses urbanos, que nunca cortaram o cordão umbilical com a terra, e que, por isso, ou continuam a procurá-la nos retiros e hortas onde vão farrar e fadistar, ou sistematicamente a importam para a cidade através de uma das suas mais ancestrais festas, a do toiro e do cavalo, isto é, através das largadas, entradas de toiros e das toiradas, esses novos urbanos matam saudades, revivem a sua natural união à terra... 
Ora, este fado, que vem na sequência do Tia Macheta (que diz do nascimento do "fado triste da Mouraria", na hora em que o fidalgo não voltou para a Severa) e do Cinta Vermelha (que estabelece a íntima ligação entre o Fado e a Festa Brava, que vive através do Amor dos seus mais representativos actores), forma com eles uma trilogia da temática fadista por excelência, sendo interessante verificar que tenha o autor da letra instituído, neste e no Cinta Vermelha, um certo paralelismo das personagens com as do Tia Macheta... mas isso fica para os estudiosos do Fado, por certo mais competentes do que eu nessas matérias. Curioso não deixa de ser igualmente o facto de, em qualquer das letras destes 3 fados, ser explícito o nome das cantadeiras - a Severa e a Berta - o que, lá por isso, não lhes retira a intemporalidade, permitindo um estimulante encontro com um passado que questiona e desafia o presente... 
Este Fado é, quanto a mim, um ícone da (ainda) nossa ruralidade, que perdura na Festa do Cavalo e do Toiro, amante da Canção, de todas mais portuguesa- o Fado, do qual se não deslarga e traz de braço dado, numa celebração amorosa que perdura(rá)...

  

quarta-feira, agosto 15, 2012

FADO - Colectânea


Uma colectânea que merece destaque. Aqui fica uma pequena amostra desta selecção de luxo, para vos abrir o apetite; e, já agora, aqui fica também a informação acerca das respectivas autorias dos fados cujos excertos apresento no vídeo:  
José Porfírio - Consagração ao fado - Fernando Teles - Joaquim Campos
Mª do Carmo Torres - O Sonho - Francisco Duarte Ferreira - José Marques Piscalarete
Júlio Vieitas - Embriaguês do amor - Júlio Vieitas - Alfredo Duarte Marceneiro
Mª José da Guia - Ronda fadista - Domingos Gonçalves Costa - Vianinha
Júlio Peres - Encontrei a Mariquinhas - Carlos Conde - F. Mouraria
Lucília do Carmo - Manjerico - J. Linhares Barbosa - F. Macau
Adelina Ramos - Nós e ela - Carlos Conde - Armandinho
Berta Cardoso - Ouvi cantar o Ginguinha - J. Linhares Barbosa - Torres Mondego

sexta-feira, agosto 10, 2012

BERTA CARDOSO - "Tia Macheta"


Este é um dos mais emblemáticos fados do repertório de BERTA CARDOSO e é também, na minha modesta opinião, uma das mais conseguidas letras do genial J. Linhares Barbosa que, nesta aguarela fadista, representa a génese do Fado triste... uma fadista, a Severa, um fidalgo, o Vimioso, e o Amor presente, mas unilateral e impossível... e a Tia Macheta, a que tem poderes de adivinhar o futuro, a quem (ontem como hoje) se recorre como reduto da esperança, de que leia nas cartas os bons presságios e não os mais que certos"Maus Agoiros", como acontece nesta história e que, por isso, o poeta assim intitulou.
É curioso que o Fado tenha ficado depois conhecido pelo nome de quem anuncia a desgraça, a Tia Macheta, como se, na história e na vida, este personagem se confundisse com o próprio Destino...


VÍDEO DE HOMENAGEM

(Verbete publicado em 21.09.2009)

Para além de Berta Cardoso, criadora deste fado, algumas fadistas o interpretaram e gravaram, de entre as quais destaco Natalina Bizarro



Essa personagem, que Júlio Dantas criou na sua peça Severa, foi interpretada por Sofia Santos, tendo Júlia Mendes o papel da Severa.  

I.P.09

quinta-feira, agosto 02, 2012

FEITIÇO - FADO FAIA











Martinho d'Assunção, Alberto Costa, Amália, Linhares Barbosa, Berta e Carvalhinho

O "Fado Faia", originalmente intitulado "Feitiço", pertence ao repertório de Berta Cardoso, sendo J. Linhares Barbosa o autor da letra e Martinho d'Assunção o autor da música. Ao ouvi-lo, Amália gostou e gravou-o, havendo por isso quem pense que é do seu repertório.
Perante os dois registos, ocorreu-me fazer este vídeo, podendo assim apreciar-se como cada uma destas consagradas fadistas aborda o mesmo fado, o interpreta e estila.
Nas fotos inseridas no vídeo, podemos ver, a acompanhar Berta Cardoso, o guitarrista João Fernandes e o violista Santos Moreira (foto Brasil-Rio de Janeiro), Martinho d'Assunção (foto Adega O Faia), Raul Nery, Armandinho e Miguel Ramos (foto Luso); a acompanhar Amália, o violista Miguel Ramos (1ªfoto Luso), o guitarristas José Nunes (foto seguinte) e o guitarrista Raul Nery.
As caricaturas são da autoria de Jorge Rosa, um multifacetado artista- caricaturista, figurinista, cenógrafo, letrista... cuja biografia pode ler acedendo a
http://salfino.blogs.sapo.pt/tag/auto+caricatura+de+jorge+rosa

Para consultar a letra deste fado, pode ir até ao site sobre Berta Cardoso
http://www.bertacardoso.com/
E, para saber mais sobre Amália, porque não ir até ao Portal do Fado ?
http://www.portaldofado.net/index.php?option=com_content&task=view&id=1259&Itemid=67

VÍDEO DE HOMENAGEM




Este verbete foi publicado em 20.05.2009 mas, agora, achei oportuno republicá-lo, acrescentando, às duas anteriores, a interpretação que Manuela Cavaco dá deste "Feitiço".

quarta-feira, julho 25, 2012

"Cruz de Guerra" - Berta Cardoso


No verbete anterior, publiquei o poema - Cantiga do Soldado -, datado de 1915, de Manuel de Barros, em que se refere que, ao partir para a guerra, o soldado leva consigo " a guitarra sensual" porque "vencer cantando o Fado / É fado de Portugal". É deste modo que se assinala a presença dessa "Cantiga do Soldado" nos adversos tempos de guerra. Essa Canção que, entre as mais diversas temáticas, tratou também da problemática da guerra, esse pesadelo maior da Humanidade, que tão presente continua no mundo, a afligi-la, infligindo-lhe as maiores desumanidades.
Como bem sabemos, a primeira metade do século passado foi ensombrada pelas 1ª e 2ª guerras mundiais, de 1914 a 1918 e de 1939 a 1945. É precisamente em 1935 que Armando Neves escreve "A Cruz de Guerra",  poesia com que obteve o 1º Prémio de poesia, no Concurso-Literário desse ano, do S.P.N. Essa letra é posteriormente musicada por Miguel Ramos, para o repertório de uma das 1ªs figuras do Fado de então, Berta Cardoso, que o grava pela 1ª vez em 1936, acompanhada pelo próprio Miguel Ramos e por José Santos. Este é, creio bem, o seu mais emblemático fado e, provavelmente, o fado que esteve durante mais tempo nos Hits da rádio dos anos 30, 40 e ainda 50. Compreensivelmente. O assunto que a todos preocupava (preocupa) era a guerra e era igualmente o assunto que a todos colocava (coloca) grandes questões humanitárias... Particularmente, por certo, a todas as mães, às dos vencidos e igualmente às dos vencedores, a todas aquelas que, mesmo recebendo uma medalha- "Cruz de Guerra" - que simboliza o reconhecimento da Pátria pela bravura dos seus filhos, não podem alienar a tristeza que sentem pela morte desses seus mais preciosos bens; é, por certo, contraditório, este orgulho que se sente pela coragem dos filhos, que se batem pela Pátria e a dor pela perda de quem mais se ama; é, por certo, contradição e contraste que, nesses momentos de intenso pesar, uma mãe, que chora a morte do seu filho, tenha ainda espaço para pensar nas outras mães, as do "inimigo", que choram também pelas mortes dos seus, que esse acto de bravura, quiçá, terá ocasionado...
De facto, na guerra, não há vencedores nem vencidos; há apenas perdedores, predadores e muita Dor...


Aqui fica a letra "A Cruz de Guerra", devidamente visada pela Censura, e o registo de duas versões deste fado, uma mais moderna e outra, a 1ª gravação segundo creio, na interpretação da sua criadora- BERTA CARDOSO
Como curiosidade, igualmente aqui fica o registo da interpretação do mesmo fado por Isabel de Oliveira, uma das poucas fadistas, senão a única, que "ousou", depois da sua criadora, não só interpretar, mas mesmo gravar, este quase que exclusivo de Berta Cardoso.