quarta-feira, abril 07, 2010

"Mulheres num mundo de homens" Instrumentistas

Ainda o "Divas do Fado", um inesgotável manancial de polémica fadista...

Desta vez, cabe em sorte o Manuel Halpern, jornalista e crítico do que foi um conceituado jornal, o Jornal de Letras, Artes e Ideias; poderia apresentá-lo, mas, melhor do que eu o faria, o próprio aqui se apresenta

Manuel Halpern
Acerca de mim
Jornalista e crítico do Jornal de Letras, Artes e Ideias, Manuel Halpern escreve preferencialmente sobre música e cinema, além de manter, desde há dez anos, a coluna fixa O Homem do Leme. Popómano, cinéfilo, bloguer, ávido coleccionador de CD e DVD, e autor de booklets, nasceu em Lisboa no ano da Revolução de Abril. Tem duas filhas, duas peças de Teatro (O Segredo do Teu Corpo e Palco – Quimera, 2006), um ensaio sobre fado (O Futuro da Saudade – O Novo Fado e os Novos Fadistas, Dom Quixote, 2004). Licenciado em Comunicação Social, pela Universidade Católica, com pós-graduação em Crítica de Cinema e Música Pop, na Faculdade Ramon Lull de Barcelona, colaborou, entre outros, com a Visão, Público, Blitz, Antena 2, Diário de Notícias e Corriere della Sera. Nas horas vagas é DJ, integrando a dupla de som e imagem Ouvido Visual. Fora de Mim é a sua primeira ficção.

Feitas as apresentações, passemos ao que interessa. Confesso que tinha prometido a mim própria nada mais comentar acerca do "Divas do Fado", mas a verdade é que, depois de ler o que li, não consegui manter a promessa, feita antes de ler o que li, pelo que, em rigor, nem por incumprimento me devo penitenciar...

E o que li e aqui partilho, escrito por Manuel Halpern (que, no citado livro, escreve umas tantas páginas, que, à semelhança do que ocorre em obra anterior, continuam a denotar deficiente informação em assuntos de fado e deficiente expressão em língua materna) não será sequer, quiçá, um dos trechos que melhor ilustre o que afirmei acerca do discurso deste pós-graduado em Crítica de Cinema e Música Pop, Licenciado em Comunicação Social (pela Católica!), que não deveria ser, portanto, mais um inho qualquer desses que escrevem por aí ou por aí têm quaisquer programas de entertenimento; ora atentem, a páginas 28, assegura-nos, então, o amigo Halpern: "A ausência de tocadoras de guitarra portuguesa, por um lado, deve-se a uma forte tradição masculina, mas por outro trata-se mesmo de uma questão fisionómica." ???!!!(sublinhado meu) Se não fosse tão triste, eu voltaria a gargalhar como o fiz com aquela tirada acerca da fadista Raquel Tavares que "contrariando essa esmagadora tendência," (de serem sempre homens os tocadores) "arriscou em Ardinita, acompanhar-se à guitarra. E a sua imagem, de guitarra em punho, tornou-se forte e libertadora" (sublinhado meu), como se essa fosse uma imagem rara... Ó Manuel, o menino deve andar cego! É o que não falta, fadistas "de guitarra em punho"! é, de resto, uma imagem mais que vulgar!; toda a fadista que se preze, tem uma fotografia empunhando a guitarra... que algumas tocavam, acompanhando-se, ou não se lembra de nenhuma que o fizesse? Será que a mítica Severa tinha uma guitarra só para enfeitar, compor a imagem? E a Maria do Carmo (Alta)? Acha mesmo que a Luísa Amaro tem razão ao afirmar, segundo citação sua, que "Ainda não apareceu uma mulher que fosse capaz de tocar guitarra como os homens" ? Gostava que me explicasse o sentido desta comparação, para além do que encontrou e explicitamente se encontra vertido no comentário que seguidamente tece "Sendo assim, Luisa descobriu uma forma feminina de tocar, em que contorna a questão da virilidade com uma doçura invulgar. Todavia, escreve as suas próprias composições e não acompanha fado." (sublinhado meu) ... Irra! Que raciocínio!... Parece até que, dada a sua compleição, tocar guitarra é quase tão inadequado à mulher como pegar toiros!...

Deste breve exemplo, cada um tire as suas próprias conclusões...

Não termino, porém, sem antes lembrar o nome da actual guitarrista Marta Pereira da Costa, com um já significativo e notável percurso artístico, bem como recordar o nome das instrumentistas Isabel e Georgina de Sousa, que nos anos 30 do passado século constituiram o Duo Glória-Lusa, precisamente as que se podem observar na imagem deste blog, em frontispício.

Deixo-vos com este vídeo, que me chegou por mail, a propósito e parecendo até de propósito, que ilustra a enorme dificuldade sentida por estes imberbes instrumentistas, de ainda débil compleição, a qual, por isso, muitas vezes se compara à das mulheres, às mais franzinas, está visto... Coitaditos! que falta lhes faz "as mãos grandes e os dedos cumpridos", dado "o grande esforço físico que a guitarra portuguesa exige"... Fim de citação!







Que tal? Magníficos, não? diria mesmo, fisionomicamente muito agradáveis!... :-)

9 comentários:

Anónimo disse...

Nunca tive o prazer de ouvir uma tocadora "virtuosa" de guitarra portuguesa - mas se o sr. Manuel Halpern acerta ao dizer que isto se deve a um fenómeno sociocultural, mais valia ter-se ficado somente com essa observação, ao invés de entrar em apologias tontas.

Ainda no século XIX, eram comuns os professores de guitarra que davam aulas a miúdas e a jovens da boa sociedade, e isto pode ser muito facilmente ilustrado com várias notícias, fotografias, e até nomes concretos. Há um anúncio de 1899 onde uma professora de guitarra oferecia os seus serviços.
Foram também muito comuns as cantoras que se acompanhavam a si próprias, usualmente em harpejo singelo de acordes, como a referida Maria do Carmo, a Júlia Florista, e tantas outras.

Fadista disse...

Precisamente, Anónimo, salvo que o M. Halpern nem chega, que eu tenha dado por tal, a referir o fenómeno sociocultural, como deveria...
Obrigada pela atenção e pelo esclarecedor comentário.
O.

Ti Maria Benta disse...

Fadista que era fadista, da velha guarda e tempos áureos, cuja marginalidade do fado ainda não tinha chegado às esferográficas (ou teclas) destes senhores, já essas mulheres à antiga portuguesa (as quais, bem sabemos, também se encontram quase extintas) faziam-se acompanhar pelo dedilhar da sua guitarra, sem que isso ferisse a sua (frágil?) compleição física. Aliás, nem duvido eu que tal contribuísse para uma experiência absolutamente diferente de cantar e sentir o fado, corrijam-me as entendidas...
À semelhança do/a Anónimo/a, recordei-me imediatamente da Júlia Florista, cuja biografia li recentemente. Nalguns filmes portugueses também se vê a clássica imagem da fadista de guitarra em punho (Clássica, claro está!). E a Berta Cardoso, segundo alguém me disse, também tinha unhas suficientes.
Os instrumentos de cordas, sejam estas de aço ou nylon, nunca foram um impedimento para as mulheres. Aliás, com treino tudo se consegue. De preferência com aprendizagem desde tenra idade, para ambos os sexos.

Fadista disse...

Acordo total, Comadre MariBenta. Sempre houve mulheres a tocar guitarra e outros cordofones, quiçá mais exigentes em termos de esforço físico, e por isso essa razão da compleição feminina, do meu ponto de vista, não colhe... De resto, logo o título a que se subordina o texto em causa, do Halpern, me parece absolutamente o contrário do que deveria ser; o Mundo do Fado é, sempre foi, um Gineceu; por isso mesmo, quem toca são de preferência os homens, os "acompanhantes", que, de resto, sempre tiveram um papel secundário... e lá por os instrumentistas serem quase todos homens, não passa o Mundo do Fado a ser um mundo de homens, como o título refere... Eu acho mesmo que o título deveria antes ser "Homens num Mundo de Mulheres". A seguir...

Anónimo disse...

Ai Deus e ue que a nossa amiga Maria Leiria não larga o Divas. Razão tem, mas porque não foi à apresentação do Livro/CD na Fonoteca em que todos falaram e disseram razões, ali frente a frente com os autores? Não estou a defender os autores e concordo até com os seus reparos, mas de quando em vez sai com uma da cartola, como quem diz. Tanto mais depois da demolidora crítica em que nem o seu "amigo" Nuno Lopes poupou. Mas razão é razão e não há amizades. Mas tem sido castigadora. O próximo alvo será mesmo o Nuno Lopes, agora calhou ao Manuel Halpern que não é santo da devoção fadista...

Fadista disse...

O seu comentário, meu caro "Ai Deus!, e u é", quase passava sem que o visse, mas ainda bem que assim não aconteceu...
É evidente que gostaria que o meu Amigo e notável jornalista Nuno Lopes, que muito tem feito em prol do Fado, não tivesse tido este desaire, mas também me parece óbvio não dever calar o que a verdade e a justiça pedem que se diga; de resto, não faltaria, então, alguém apontar o contrário do que agora faz...
É natural que volte a citar a obra e a tecer alguns comentários, sim, tanto mais que ainda não acabei de ler os textos e pode haver alguma outra situação que me pareça importante ficar assinalada neste meu quase Diário, tornado público, mas que não passará de uma meia dúzia de leitores... sabem lá os mil milhões de leitores, que adquiriram o livro, sequer da existência deste blog!...
Nem sempre a agenda de cada um favorece os encontros que gostaria de ter, mas a quem interessa o que digo sabe perfeitamente a quem reclamar a responsabilidade do que diz, não sei se me faço entender... dizê-lo lá ou aqui, é, assim, indiferente.
E, claro, não poderia ignorar simplesmente o outro autor da obra, este, pelo facto de nem sequer o conhecer pessoalmente; poderia até parecer desconsideração!...
Com isto tudo, acabei até por fazer alguma publicidade ao LIVRO4CD e angariei mesmo alguns compradores... Ora vê?!...

"Bem entendi, meu amigo,
que mui gram pesar houvestes
quando falar nom podestes
vós noutro dia comigo;"
:-)

Anónimo disse...

Grandes compadrios e amizades, ora de uns ora de outros, vá lá a gente entender-se nes meio fadistal. E são trovadorescos!

Zé do Pitróleo

Anónimo disse...

O Manuel Halpern esteve mal neste e noutros textos, mas é um profissional de anos como foi nesta lenga-lenga?
Quanto ao outro parceiro, Nuno Lopes, que nada tem a ver com este texto, ninguém diz nada? Algo que se veja pois é de dominuta importancia as criticas apontadas. O erro numa data? A troca de um nome, entre o prefaciador e o autor? Sim porque as autorias é culpa do editor: Samuel Lopes. Talvez parentes...
Carlos Alberto

MLeiria disse...

Pois diz mtº bem, Carlos Alberto, o Halpern ESTEVE MAL NESTE E NOUTROS TEXTOS, embora seja "um profissional de anos" (?!)... Saberá que a antiguidade não é sinónimo de competência e já nem é um posto!...
No que ao Nuno Lopes se refere, não terá lido, por certo, os meus anteriores verbetes...
Mas, provavelmente, nem valerá a pena... se para si um erro numa data, a troca de um nome,... são de somenos importância!... E olhe que é capaz de ter razão ou pelo menos a maioria; quem se importa hoje com essas minudências?! Tanto mais que, chamar-se hoje Maria ou Manuel, pode ser apenas uma questão de anos!...