sábado, março 13, 2010

"A MINHA PRONÚNCIA"




Canção do Sul, 1936

http://fadocravo.blogspot.com/2008/10/argentina-santos-minha-pronncia.html

Afinal, ao contrário do que eu ingenuamente pensava, chegou-me a notícia de que, no que ao "Divas do Fado" se refere, vai tudo continuar como está, sem qualquer reparo público, até mesmo porque "já está quase tudo vendido"... Sem querer tornar-me maçadora e apenas em prol do rigor e respeito que esta matéria me merece, deixo aqui estes recortes de uma Canção do Sul, de 1936, onde colhi a informação da autoria de um dos fados a que, na supracitada colectânea, se atribui créditos incorrectos, o fado "A minha pronúncia", que aparece como sendo da autoria de Alberto Rodrigues, sendo afinal, tudo leva a crer, de Clemente J. Pereira, e do repertório de Carolina Redondo, como já então se declarava.
É provável que, em fonogramas anteriores, por qualquer erro de simpatia, tenha sido indevidamente indicado, como autor da letra, o Alberto Rodrigues (que nem sei mesmo se já escreveria para fado em 1936...), mas, tendo sido levantada a dúvida, perante o documento que acima se exibe e que não é por certo apenas do meu conhecimento, pressupondo assim, que alguém indevidamente esteja a receber royalties em vez de quem devia... pergunto, haverá alguma estapafúrdia lei que proíba a reposição da verdade?!... que impeça que se rectifique erros anteriores?... Sinceramente, não creio! E, a existir, tem absolutamente que ser alterada, parece-me.
É que, se se pretende que tenha o Fado, seus autores e intérpretes a mesma importância e dignidade que se concede a outras Artes, teremos que começar por tratar estes assuntos com a seriedade e saber que os mesmos requerem, e não de uma forma aligeirada, apressada e pouco académica, como se fosse completamente indiferente , neste caso, por exemplo, ser um ou outro o autor da letra do fado em causa...
Fico desiludida, e mesmo pesarosa, com o facto de esta colectânea ter saído com tantas incorrecções e de que nada se faça para as colmatar, tanto mais quanto é obra pela qual são responsáveis dois jornalistas de algum gabarito, particularmente o Nuno Lopes que, diga-se em abono da verdade, muito tem feito pela res fadística, de que é mesmo um estudioso e conhecedor.
Concluindo, se eu já tinha dúvidas, com mais dúvidas fiquei!...
Pergunto, será trilhando estes caminhos que Portugal vai apresentar a candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade ?!...

6 comentários:

bosco disse...

E como fica a imagem de Nuno Lopes ao ser associado a uma obra pejada de erros históricos e biográficos? Que crédito merece este senhor ao saber destes erros e nada fazer para os corrigir? Que respeito e credibilidade merecerão as suas futuras cronicas e artigos jornalisticos? Poderei confiar na verdade dos seus escritos, ou duvidarei da sua seriedade e rigor? Como diz o ditado, gato escaldado de agua fria tem medo, não é?

Roberto Peresio disse...

Eu pesquisei no sitio da SPA....
http://www.spautores.pt/pesquisas1.aspx?Tipo=M&Obra=MINHA%20PRONUNCIA%20A&iswc=T-045580511-4-
A letra è attribuida a Alberto Rodrigues dos Santos.
No mesmo sitio pesquisando as obras de Clemente José Pereira nao aparece o fado em objecto.

Ciao
Roberto Peresio

bosco disse...

ó amigo Roberto se há entidade em quem não podemos confiar é a SPA. se o meu amigo acompanhou a "novela" do fado menor (com complemento versiculo) sabe porquê. A SPA detém um registo do polémico fado como sendo do Marceneiro, e depois faz uma grande "sardinhada" desdobrando-se em meios-ditos quando estoirou a polémica da atribuição do prémio goya... mas também pode ser que eu e meio portugal estejamos enganados!

Fadista disse...

A S.P.A. pode ter essa letra atribuída ao Alberto Rodrigues, sim! Um registo duvidoso, como tantos outros,,, Mas isso não
"apaga" a existência do documento que exibi e pode ser consultado na Hemeroteca, na B.N. ou mesmo no MdoF e cuja veracidade é, pelo menos, tão boa senão melhor do que esse registo de que o Roberto fala. Precisamente, um dos muitos trabalhos que está por fazer, a nível do fado, é o de validar muitas das informações e documentos existentes na SPA, cotejando-os com outros, até provavelmente à guarda de organismo oficial... Independentemente disto, o Roberto viu a letra, atribuída ao Alberto Rodrigues, com o título em questão ou só confirmou o título? É que, como sabe, pode ser outra letra, diferente da que aqui se trata, uma vez que, sob o mesmo título, lá se pode encontrar registadas várias letras... tente com alguns títulos, verá!...

Anton Garcia-Fernandez disse...

Como já todos vocês sabem, no fado normalmente ocorre que diferentes letras são escritas para uma mesma música, ou que a mesma letra pode ser interpretada em diferentes melodias. Portanto, acho que, se vamos dar um prémio à música, como foi o caso do Goya, é preciso confirmar o nome do autor da música. Se quem escreveu a música do fado versículo é o Marceneiro (como sem dúvida assim foi) então não é possivel premiar a nenhuma outra pessoa por essa música.

A letra já é outra coisa, pelo que também é preciso verificar que o título dum fado se corresponde com a letra da que estamos a falar, já que existem muitas letras que têm o mesmo título. Na minha humilde opinião, a Guitarra de Portugal e a Canção do Sul merecem mais fiabilidade do que a base de dados da SPA, porque são publicações sérias que saíram do próprio meio fadista na época em que os fadistas e as cantadeiras estavam a interpretar (e em muitas ocasiões a introduzir) estas letras pela primeira vez, não é?

Saudações de Memphis,

Antón.

MLeiria disse...

Completamente de acordo consigo, caro Antón! De resto, como pode uma letra, registada nos anos 50, por ex., por fulano de tal, mas que foi publicada, já nos anos 30, em nome de letrista da época, ser de quem a registou posteriormente?!... Já aqui levantei alguns destes problemas, a que ninguém pareceu ligar... para mais tarde, provavelmente, esses "investigadores" fazerem a "descoberta"... é o costume!...
Saudações fadistas!