quarta-feira, maio 25, 2005

Para a Fadista Valéria

Agrada-me constatar que continua a visitar o meu blog e, por isso, hoje aqui fica um desenho (que eu acho bem bonito) construído por um programa de computador "inspirado"no seu nome, em jeito de cachimbo da paz...
Para mim, o mais importante é termos em comum esta virtude - gostarmos de Fado.
Lamento não a conhecer, nem nunca ter tido o privilégio de ouvi-la.
Acerca do seu comentário, de 20 do corrente, que agradeço, gostaria unicamente de referir que nunca me pareceu muito importante o facto de se ter começado a cantar fado com letras de Camões, O'Neill, D. Mourão-Ferreira, Ary dos Santos... Contudo,na verdade, parece-me um dos discos mais conseguidos de Amália, o COM QUE VOZ (1971 ?), em que estes e outros poetas são cantados. Mas a música é outra! É, seguramente, a afirmação do "fado intelectual". Pois bem, eu tenho para mim que o fado, como expressão da alma do povo, é mais genuíno servido por "letristas", como eram chamados, que teriam, já se vê, menos cultura erudita, mas, de certo, mais cultura popular... Lembro aqui unicamente dois nomes: Linhares Barbosa e Gabriel de Oliveira.
Ninguém dirá que Amália não merece todo o reconhecimento que tem tido. Mas, antes dela, outro(a)s foram grandes e estão hoje completamente esquecido(a)s... O Fado não é (só) Amália...
E, se o Fado já foi a Canção Nacional, duvido que hoje se possa dizer o mesmo. Não há, efectivamente, uma cultura popular que o valide como tal.
Até breve. Agora, vou ouvir cantar o Fado.
Um abraço.

1 comentário:

Anónimo disse...

Primeiro tenho de lhe agradecer a atenção.Estou surpresa e ao mesmo tempo feliz.Temo não ser merecedora dessa sua ideia linda de oferecer-me "aquele quadro".
Obrigada.
E comentando o seu texto, realmente o 'Com que Voz'(1970)da Amália foi porventura o seu disco mais premiado internacionalmente, mas não foi o que constituiu uma viragem do Fado de Amália.Esse seria o album do Busto(1962), que até José Nunes, na altura acompanhante da Amália, chamava "as óperas", referindo-se aos fados de Oulman.
No entanto, e sem me desdizer, estou de acordo consigo, quanto aos poetas populares.Aliás Amália cantou-os todos quase até ao fim...E no fim de contas, Gabriel de Oliveira com (por ex.) aquele fado 'Há festa na Mouraria', poderá ser "apenas" considerado poeta popular ou letrista? Acho que não.Está ao nível de muita Poesia Literária. Por isso, é perigoso taxar-se as coisas...Não canta Beatriz da Conceição ^( e maravilhosamente!!!) Ary dos Santos ou Vasco de Lima Couto? Será menos fadista por isso? Claro que não! A Beatriz é fadista até ao tutano...
Por isso, o Fado, como tradição oral e urbana, recebe influencias várias.Porventura a de Amália foi a que mais seguidores teve, e foi o caminho do Fado mais aclamado. Mas atenção!-a propria Amália nunca se esqueceu do Armandinho,do Marceneiro, etc...nunca ocultou as suas raizes, cantando-as até 1995, o ultimo "suspiro" da sua carreira. Assisti na minha vida a 54 concertos da Amália, de Lisboa a Beirute, passando pela Madeira ou Paris, e sempre, mas sempre, a ouvi anunciar, antes de cantar, os autores dos velhos fados, equiparando-os assim aos temas daquele a que você chama de Fsdo Intelectual, designação que não concordo! E sabe porquê? A partir do dia em que passeando pelo mercado ouvi uma vendedeira de fruta, a cantar (e bem!) um poema de David Mourão Ferreira com a desenvoltura com que poderia cantar um fado mais popular tipo 'Zanguei-me com o meu amor', rendi-me à evidencia, e compreendi a importancia de Amália, e o alcance daquela frase do Pedro Homem de Mello, que um dia, disse "agradecer a Amália por ter feito a sua Poesia subir até ao Povo".

Um abraço
Valéria Mendez, do blog
fadista-valeria-mendez.weblog.com.pt