Foi com este verbete que, faz hoje dez anos, iniciei este blogue, num tempo em que muito pouco havia ainda na net acerca de Fado. Muitos outros blogues e sites foram depois aparecendo, podendo dizer-se que, hoje, se eu fechar portas, fica o assunto muito bem entregue e eu muito descansada porque não é lá por isso que se irá deixar de tratar de Fado por estes sítios. Mas também, diga-se de passagem, não penso encerrar tão cedo...:)
Poderia assinalar a data com mais "um vídeo daqueles", mas, pensando melhor, vou brindar com um excerto de um texto a propósito, de António Botto, in "Cartas que me foram devolvidas" 43
"Não digas que o fado não presta. O fado, por mais voltas que lhe dêem, é um lamento do amor, uma nota de saudade no fundo musical de um povo de mareantes e contemplativos, uma doce cantilena sem complicações de fusas na simplicidade baça de uma vida sem destino. O fado nunca faz mal. É um cansaço de sons na lira do infortúnio. Afastá-lo dos que o metem nas versalhadas de pé coxo com ideias de serradura, isso é que era necessário. E seleccionar as gargantas; raspar-lhes a desafinação, o pigarro, e ajustar o tom e as palavras no compasso do equilíbrio, da harmonia, e da beleza. Reprovar o que não presta. Deixá-lo ser verdadeiro, ungido naquela graça que é feita de uma tristeza que nasce do coração, e não lhe dar tremidinhos histéricos de baiana nem lhe meter histórias de comadres desavindas ou patrióticos disparates de bobos sem rei nem roque. Servem-se dele, do triste, para todos os salsifrés, e o pobre geme e suspira mascarado de vadio. Deixem-no andar isolado à mercê da inquietação que nasce da própria vida sem comando e sem contrôle porque o fado já não pode com tanta literatice. Rasguem e queimem essas cantiguinhas tolas que ele acompanha contrafeito. Debrucem-se, os poetas, na chaga social dos factos que entristecem a existência da hora actual tão profunda na tragédia e tão alta no anseio!..."
Assim falava António Botto, esse enorme poeta que também cantou o Fado
Sede de beijos (Fado do café com leite) / [intérp.] Maria Amélia Proença; letra, Domingos Silva; música, Daniel Jorge Martins. (daqui)
De facto, o cantador Daniel J. Martins acusou publicamente Marceneiro de plágio, pois segundo ele, o “Fado Bailarico”, mais não era que o seu “Fado Café com Leite”. (daqui)
"Estudiantina portuguesa" (1950) considerada um fado-marcha, com letra de Arturo Rigel y Ramos Castro, música de José Padilla, uma criação de Celia Gamezna opereta "La hechicera en palacio". Um êxito que perdura nas mais diversas vozes
Maria Teresa de Noronha terá sido a primeira grande representante do, quanto a mim, impropriamente chamado "fado aristocrático", mas não foi a última...
Conta-se, no activo, mais de meia dúzia de fadistas aristocráticos, alguns com crescente projecção nacional e internacional.
"O FADO chegou à patinagem artística no gelo, através de uma exibição de Margarita Drobiazko e Povilas Vanagas (casal lituano), na Gala de Oberstdorf /Alemanha, de fim de ano, que a Eurosport transmitiu.
Já não é a primeira vez que a canção tradicional portuguesa é interpretada no gelo, mas é sempre de assinalar o facto. Uma combinação perfeita.
O fado foi composto por Vinicius de Morais para Amália Rodrigues.
Extraído do album "AMÁLIA E VINICIUS" foi gravado em casa de Amália em 1968 e editado em disco em 1970 (no album também participam os poetas José Carlos Ary dos Santos, David Mourão-Ferreira e a poetisa Natália Correia)