Andava eu a tentar pôr uma certa ordem na papelada, cairam-me os olhos neste artigo, datado de 1908, de Júlio Dantas, que é, de facto, uma página de História, documento que eu tinha seleccionado para, em tempo, divulgar... Nem de propósito (nada é por acaso), contacta-me o amigo Antón, do blog http://fadous.blogspot.com/, pretendendo informações acerca do poeta de fado D. António de Bragança, autor, entre outras, da letra do "Fado das Horas"...
Respondi-lhe muito atabalhoadamente, dando-lhe informação do pouco que sabia e pensei então que seria tempo de melhor me informar e publicar esta página, pretexto para recordar alguns Fidalgos, da melhor linhagem Portuguesa, cujo contributo tem enobrecido e enriquecido a família fadista.
Este artigo de Júlio Dantas evoca, nem mais nem menos, a figura do eminente dramaturgo e poeta Dom João Maria Evangelista Gonçalves Zarco da Camara (1852 - 1908), autor da peça "Rosa Engeitada", donde se extraiu a opereta popular com o mesmo nome e um dos mais emblemáticos fados, superiormente interpretado por Hermínia Silva, Berta Cardoso, Fernanda Maria e Maria Teresa de Noronha, que o celebrizou; de uma simplicidade e afabilidade notáveis, D. Maria Teresa do Carmo de Noronha, bisneta do 2º Conde de Paraty, dedicou a sua vida (1918 - 1993) ao fado, tendo mesmo casado com o distinto compositor e guitarrista amador José António Barbosa de Guimarães Serôdio, filho do 2º Conde de Sabrosa; era, podemos dizer, um nobre casal fadista! Igualmente descendente de Dom João da Camara e sobrinho de D. Maria Teresa de Noronha, é o consagrado fadista Vicente da Câmara (1928), D. Vicente Maria do Carmo de Noronha da Camara, filho de D. João Luís de Seabra da Camara (1905) e pai do também fadista José da Camara (1967), D. José do Carmo de Ataíde da Camara.
Finalmente, o poeta de fado D. António José Manuel de Bragança (1895 - 1964), autor, entre outros, do célebre Fado das Horas, pai de D. Segismundo Caetano da Camara de Bragança(1925), violista amador de reconhecido mérito, primo de Vicente da Câmara e sobrinho de uma das mais emblemáticas figuras da boémia lisboeta do passado século, frequentador assíduo de casas de fado, particularmente da Adega Mesquita, de cujo dono era muito amigo - refiro-me, claro está, a D. Pedro João Libânio Manuel de Bragança (1885 - 1972).
Destes diria eu, parafraseando Júlio Dantas, que não tiveram "de inventar um brazão como Garrett" e nem o tiveram também que inventar dois outros nobres fadistas que não poderia deixar de aqui lembrar - Frei D. Hermano Vasco Villar Cabral da Câmara (1934) e Nuno Maria de Figueiredo Cabral da Camara Pereira (1951).
Todos descendentes de D. Afonso Henriques, de resto como o era também a grande actriz IVONE SILVA, de sua graça Maria Ivone da Silva Nunes (1935 - 1987)...
Com todos estes dignos cultivadores e amantes de fado, comprovados representantes da mais nobre linhagem portuguesa, digam lá que o fado era apenas canção de rameiras e rufias!...
E se o era, lá teria os seus encantos para rapidamente o deixar de ser. De facto, parece-me que o célebre par da fadista Severa e do Conde de Vimioso é, para além dessa história, o ícone dessa sistemática e apaixonada transgressão que sempre uniu as mais nobres às mais populares casas portuguesas, proporcionando uma apetecida e saudável renovação genética, que, de tão proveitosa, levou à ratificação dessa fantástica e nobre instituição que é a bastardia!...
Ligação: Acerca deste assunto pode ler, em inglês, o artigo mais específico sobre Dom António de Bragança, the Author of the “Fado das Horas” , por Anton Garcia-Fernandez.
6 comentários:
Invejo a sua vitalidade, é de ficar, se me perdoa o termo "aparvalhado" consigo, pois com os vários Blogs em sempre actualização, vídeos editados para o YouTube, operadora de camara de fotos e deslocações para os registos na Cidade, e o que eu nem sei e talvez não se fique por aqui. Fico de boca aberta, e é porque não tenho mais de duas mãos para bater palmas, até batia também com os pés, mas posso acordar a minha mulher que já dorme, pois está muito cansado do fim de semana que foi esgotador e de imendo trabalho. Aí vai um Bjinho e sempre a minha admiração e carinho. Américo
Amiga Ofélia:
Desejo fazer minhas as palavras do amigo Américo e dar-lhe os parabéns pela sua extraordinária vitalidade e pelo seu óptimo trabalho a divulgar o fado. Quero dizer-lhe que o seu trabalho é um verdadeiro modelo para o que eu faço nos meus blogs.
Além disso, obrigado por trazer à recordação este fantástico artigo do Júlio Dantas que, como você bem diz, é uma página da história do fado e de Portugal. Sem dúvida é uma feliz coincidência que você estivesse a trabalhar neste verbete ao mesmo tempo que eu estava a procurar informação sobre o D. António de Bragança.
Vou agora ler mais uma vez o artigo de Júlio Dantas. Beijinhos fadistas!
Antón.
O seu comentário fez-me rir com gosto!
Ainda bem que o seu fim de semana foi de arrasar... se não tivesse que fazer, é que era mesmo mau.
Pois é, eu sou um bocado "workachoolic"! Tenho que estar sempre a fazer qq. coisa ou a pensar no que vou fazer a seguir.
Há quem consigo estender-se numa poltrona a olhar a paisagem e "está-se bem", é o melhor; isso, para mim,é horrível; sinto-me logo doente...
De modo que, nem nisso, eu terei grande merecimento... sou mesmo assim!
Beijinho e obrigada pelas suas palavras sempre amáveis
OP
Relativamente à minha vitalidade, obrigada Antón por tb a considerar tão extra, mas é simplesmente uma capacidade que eu preservo e estimo, mas que já vinha com o artigo, tal como o livro de instruções... não tenho qq merecimento nisso!
Quanto ao artigo do Dantas, estamos d'acordo que é fantástico e que, mais do que uma página acerca de D.João da Câmara, autor da "Rosa Enjeitada", é um texto com imensas referência históricas de interesse.
Não seria eu a dizer "Morra o Dantas", não!...
Cara Fadista, queria agradecer-lhe este precioso documento, pois andava já há algum tempo a querer saber a história do fado Rosa Enjeitada (um fado que amo até ao tutano), tendo sido a primeira vez que me deparei com referências factuais. No seguimento dos comentários anteriores devo elogiar especialmente a vitalidade e a paixão da sua prosa.
Felicidades e até breve!
Congratulo-me com o facto de que estes meus apontamentos sobre o Fado sirvam a alguém, muito particularmente, neste caso, a alguém que, pelo que já vi, bem aproveitará a informação.
Obrigada pela sua elogiosa avaliação da Fadista...
À disposição!
Até sempre
OP
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