quarta-feira, novembro 30, 2005
ABDICAÇÃO
Toma-me, ó Noite Eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... Eu sou um Rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei,
E meu ceptro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.
Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas dum tinir tão fútil -
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a Realeza, corpo e alma,
E regressei à Noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
Fernando Pessoa (1913)
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2 comentários:
Caraças! Venho aqui todos os dias para ver se publicas um dos teus célebres poemas! Então?! Nunca mais é sábado?!... Tenho que abdicar? fico-me só pelas artes gráficas, é? Olha tem um bom feriado ***
Vá lá! Só um, só unzinho
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