sexta-feira, fevereiro 23, 2007

GRANDES PORTUGUESES



Ao Bairro Alto, na R. João Pereira Rosa, chama a atenção, de quem por ali passa, o prédio com o nº 6 em cuja frontaria se encontram 7 lápides! Lendo-as se fica a saber que ali residiram os seguintes portugueses ilustres: JOSÉ GOMES FERREIRA; OFÉLIA MARQUES; FERNANDA DE CASTRO; BERNARDO MARQUES; ANTÓNIO FERRO; JOAQUIM P. OLIVEIRA MARTINS e ainda que ali também viveu e faleceu RAMALHO ORTIGÃO. É um prédio com História, não é? Mas está como outros, igualmente importantes para a história da Cidade, a degradar-se...
Quem, de dia, circula pelo Bairro Alto não pode deixar de indignar-se com o estado em que se encontra a maior parte dos prédios, alguns ameaçando ruir, outros já parcialmente desmoronados e muitos vandalizados. Mas, de dia, quem lá mora ainda?...
Quem, de noite, se faz ao Bairro Alto para se divertir e assim, nem se apercebe do real estado das coisas; é natural- com o barulho das luzes nem se nota!... E ficamos todos muito mais descansados!

3 comentários:

janus disse...

Por aqui passa-se o mesmo, talvez por todo o país. Até quando? É mesmo uma tristeza :(

Anónimo disse...

Lamento q. o comentário q. deixei aqui ontem tenha desaparecido vou ver se o recupero.
Eu

Anónimo disse...

Noites de desassossego nas ruas do Bairro Alto

in Diário de Notícias de 26 de Fevereiro de 2007

Por um dia, Maria Helena Carmo foi a moradora mais vaidosa do Bairro Alto, em Lisboa. O prédio n.º 35 da Rua do Poço da Cidade estava coberto de grafitti, cartazes e manchas de humidade. Tudo isso desapareceu com duas demãos de tinta branca no início de Fevereiro. "Vieram cá uns senhores da câmara municipal, montaram os andaimes e limparam tudo", conta a pensionista de 73 anos. Esta felicidade, porém, esfumou-se em menos de 24 horas: "Na manhã seguinte estava um enorme rabisco em cima da minha porta." Alguém usou a fachada do seu edifício para protestar em letras vermelhas contra a penalização das drogas.

Maria Helena, que é invisual desde os 21 anos, só soube disso ao final da manhã. A vizinha, que mora no n.º 33, tentou adiar o mais possível as más notícias: "Foi uma dor de alma ter de lhe contar que o prédio dela já não era mais branco", confidencia Laurinda Lopo. Maria Helena, que "é cega, mas não é nada parva", percebeu que a comadre escondia qualquer coisa. E, depois de alguma insistência, ficou a saber a verdade: "Não foi espanto nenhum para mim, só tinha esperança de que não sujassem o meu prédio logo na noite a seguir", desabafa Maria Helena.

No Bairro Alto, já não restam paredes lisas: há declarações de amor que ocupam fachadas inteiras, rabiscos que vão de uma ponta à outra dos prédios, cartazes que anunciam peças de teatro, espectáculos de kizomba e de hip hop. "Os sinais de trânsito estão cheios de autocolantes e cada canto está transformado em mictório para os jovens que vêm aí à noite beber copos", censura António Figueira, residente na Rua Diário de Notícias.

Madrugadas de terror

E mesmo ali ao lado estão os lençóis brancos nos estendais, os gatos a espreguiçar-se nas janelas e as comadres a tagarelar nas mercearias. O sossego no Bairro Alto só acaba quando a noite começa. "A malta nova vem para os bares daqui e então é que é a confusão", avisa Manuela Gato, que vive na Rua da Rosa. Nem com as portas e as janelas trancadas é possível abafar o barulho. "Batem nos vidros, sentam-se nos carros e até arrancam os retrovisores", denuncia a moradora.

E, no dia seguinte, há copos, garrafas e lixo amontoados nas esquinas e nas ruas, nas escadas dos edifícios e à entrada das casas: "Sextas e sábados de manhã, quando abro a porta já estou de vassoura na mão." Só assim Manuela Gato consegue desbravar caminho e chegar até à rua. Houve alturas em que se revoltou contra a desordem instalada nas noites do Bairro Alto, mas hoje diz não ter a "mesma fibra" para cortar pela raiz a "falta de respeito" dos miúdos pelos mais velhos.

"Até há bem pouco tempo levantava-me da cama a meio da noite e corria a rapaziada da minha porta com um balde de água fria", conta. Eles acabavam sempre por regressar preparados para um segundo combate: "Davam pontapés na minha porta e diziam um chorrilho de asneiredo." A vingança da "rapaziada" derrotou a moradora do Bairro Alto, pois desde o ano passado que suporta em silêncio a "barulheira" até ser de manhã.

Mas nem depois de levantar a bandeira branca foi possível obter tréguas. "Só este ano, já fui obrigada a esfregar a minha porta com lixívia quatro vezes para limpar as tolices que os pequenos me deixaram de presente", lamenta Manuela. O seu descanso só chega quando as luzes se apagam e o Bairro Alto é devolvido aos moradores.
Eu