sexta-feira, abril 17, 2009

O Fado no S. Carlos - II










Anunciada Gala do Fado a transmitir pela RTP1, Internacional e África.

Para o Fado, abro excepção e aí estou eu, frente ao televisor, tentando confirmar aquela primeira impressão de que a Gala decorre no S. Carlos... sim, é o Teatro Nacional de S. Carlos! Boas!, disse cá pr'a mim e pr'á Fifi, a minha gata que, como eu, adora Fado... ora nem de propósito o meu post do passado dia 10, acerca da representação da peça "O Fado" no S. Carlos, em 1915!

Pelo que as câmaras mostraram, pareceu-me que a assistência se comporia exclusivamente por convidados e que muitos, ou não teriam recebido os convites, ou teriam ido a outros espectáculos, ou então são dos tais que, nem no S. Carlos, não ouvem Fado!... que pena que a sala estivesse tão vazia!

Quanto aos fadistas, de que não se disse qual o critério de escolha, a abrir tivémos a Ana Moura, que quase não reconheci naquele seu novo visual, mas que continua a ser, para mim, a mais tradicional e autêntica das fadistas da sua geração; a fechar, o "tio" João Braga, que esteve muito bem, como só ele sabe, digam o que disserem, a brindar o poeta Alegre com duas letras de sua autoria... o que, nem por isso, lhe transformou o semblante pesado que em nada fazia jus ao apelido que carrega... "a vida costa!..."; a Carminho, acompanhada ao piano... perguntava-me a Fifi "mas porquê?" "-sei lá, respondia eu, deixa ouvir, que mesmo assim vale sempre a pena...", mas de facto a Fifi estava cheia de razão e até duvidou que eu a tivesse quando lhe atirei com uma outra possível explicação "-quem sabe se não estará aqui a representar o "fado fino", o que se cantava em salões, acompanhado ao piano..."; O Gonçalo Salgueiro, tão lindo, meu Deus, a voz, então, uma voz singular, linda também... que pena só cantar coisas da Amália, ou quase... merecia repertório próprio, nem deve ter dificuldade em arranjar quem lho escreva...; Jesus!, a Kátia, com Kapa, porque é que não continua a cantar como dantes, com as mãos e os braços presos atrás das costas?... era preferível, a sério, era a diferença; assim com toda essa gestualidade tão exuberante e, por vezes, "complicada"... melhor só ouvir, muito bem!

Prontos! Passou rápido demais. Deverei confessar, em abono da verdade, que esperava mais, uma gala"em bom", em grande, sei lá!, demais no S. Carlos!
Por isso,

Não saí do lugar, embora a Fifi estivesse impaciente para ir deitar-se, porque a seguir teríamos "Mariza and the story of fado" e eu sempre queria ver do que se tratava. Deveria ter acedido ao bom senso da gata... que bem sabe que a curiosidade se não dá muito bem com a sua espécie (e nem com a minha, direi).

Não terá sido, contudo, tempo perdido; devo admitir que fiquei encantada, por ex., com a prestação do Nery, que mostrou ser tão exímio a falar inglês, quanto o pai a tocar guitarra; a Mariza também se safa muito bem nesse idioma, sim senhor! agora, propriamente no que respeita à história do fado... é que me pareceu que nem mesmo a Salwa tivesse salvo a situação...
Já que, por causa deste documentário, se não venha a "descobrir" daqui a cem anos que o Fado, afinal, teve origem em Moçambique e que foi trazido p'rá Mouraria por um casal que, vindo de lá, ali se estabeleceu e tal e treta... já não será mau, valha-nos Deus!.... O fado já tem tantas hipotéticas origens... só faltaria essa!...
De relevar as belas imagens que este documentário, com selo da BBC, oferece.
Quanto ao resto, talvez eu não tenha percebido bem a história do fado, que os especialistas entenderam contar, não só porque domino mal o idioma de Shakespeare, mas também porque tinha que estar constantemente a ler as legendas à Fifi, o que, quer se queira quer não, desconcentra.
Dormi foi muito melhor com aquela certeza que o fado tinha vindo do Brasil!... Obrigada, senhores investigadores! Agora, sim, já se fica a perceber até muito melhor a história das novelas e assim... É confortável ganharmos certezas, tanto mais dada a dificuldade de as obter.
A vós, muito agradecida!

11 comentários:

Américo disse...

Ofélia Cara Amiga. Concordo em tudo consigo, realmente a Ana Moura ainda deve estar a recuperar do problema de saúde que teve hà pouco, pois também a achei a 30% do seu valor. Eu gosto sempre da Carminho, para mim, foi o melhor bocadinho da Noite, foi pena ser ao piano, mas gostei imenso do Pianista e da sua expressão musical, onde ele tentou o andamento fadista. Não gostei nada do João Braga, então nem sequer disfarçou enquanto cantava,de não saber a letra e estar sempre a ler a pauta? Da Kátia a Amiga disse tudo. Do Gonçalo concordo também consigo,e acrescento que penso que ele ao querer tanto estilizar, exagera em alguns momentos, e é pena pois tem uma voz maravilhosa. Um abraço. Américo

MLeiria disse...

Olá Manuel
Concordo quando diz que a Gala deveria ter tido mais meia-hora (pelo menos, digo eu) e mais fadistas; acabou por ser um espectáculo pouco ilustrativo da que foi, da que está a ser novamente, a Canção Nacional. Mas, claro, antes isto que nada! E faltou-me até nomear o Malato, cujo entusiasmo por estas coisas me parece sempre muito genuíno e a quem se deve muito do que se tem feito...
Quanto ao documentário "Mariza and the story of fado", pode ver um bocadinho aqui
http://www.linktv.org/programs/dd_marizafado
aqui também
http://www.youtube.com/watch?v=c9YkM9uVI8o
ou, então, no p. dia 25 de Maio, na Fonoteca Municipal de Lisboa
http://fonoteca.cm-lisboa.pt/eventos/2009/02A_matines/02A_MAT.htm

Quanto à origem da pega, quem disse que a origem era grega, não andou muito longe da realidade...de facto, já tenho ouvido alguns comentar "vi-me grego para pegar o toiro!"... vai daí, está por ali a ouvi-lo um desses estoriadores e confabula "cá está, bem me parecia que a pega é grega!"...
E é isto, meu amigo...
Beijinho e bom fim de semana
OP

MLeiria disse...

Olá Américo
Tem razão quando refere essa "falha" do João Braga, mas parece que presentemente é assim, já ninguém esconde nada!... Com a tarimba que já tem, podia ter disfarçado, mas tb. como anunciou logo que era uma estreia, a ler, ficou até mais estreia, sei lá!...
Pareceu-me é que ele está com qualquer problema no olho direito, reparou?
Pr'ó meu amigo, claro,o homem é do Sporting, pronto, está feito!...eh!eh!eh!
Bom fim de semana!
Beijinho
OP

Ogawa Ryuuko disse...

Nosso fado, agora com certificado estrangeiro 'made in Brasil' (e não só!)está ficando cada vez mais legal! E tocar com pianinho até que fica mais fino, já não é só do pessoal das favelas! E vira mais intelectual com inclusão de poetas consagrados!Que bacana! Concordo com você, os dois caras aí mais legais a cantar nosso samba, perdão!, nosso fado, são mesmo o sô Gonçalo e a sinhá Ana Moura. Pena mesmo é que sejam portugueses! Cadê o chique? O sô Gonçalo é tão loirinho, não se apronta uma costela sueca para ele, não? E a sinhá Moura, talvez se possa falar que veio mesmo é do Norte de África.Nosso fado é estrangeirinho, é isso aí!

MLeiria disse...

Eu sabia!
Tenho que começar a escrever mais "carónicas"!...
Apreciei a visita e o comentário.
E hoje, "porque hoje é sábado" (ou melhor, devia ser, para eu dizer a propósito)vou despedir-me com
Um beijinho
OP

Anónimo disse...

Concordo a 100% com o Américo.
Não gostei de ouvir o Gonçalo Salgueiro.
Tanto berro assassina o fado, e ele tem uma voz maravilhosa.
Não percebo porque optou pelo Grito e pelo Meia Noite e uma Guitarra quando tem fados muito mais bonitos e mais adaptados a si.
Ele tem uma voz divina, mas de tanto querer evidenciar-se acho que se está a matar a ele próprio.
Gosto muito de o ouvir, mas ele canta quase sempre o mesmo, o que é uma pena.
Vi o espectáculo com mais 4 pessoas, uma das quais também canta fado, que ficaram de boca aberta de desilusão com a sua interpretação.
É um pena porque não vai ser assim, nem por este caminho que o Gonçalo se vai impor no mercado.
Ele que me desculpe a sinceridade mas é o que eu penso dele neste momento e nesta fase que ele atravessa, que creio ser menos boa para ele, depois de tanto sucesso no Politeama que creio, ele não soube aproveitar.
Luis Stivell

MLeiria disse...

Pois é, meu amigo, ou não há quem o aconselhe, ou será ele que pensa como o outro "se conselho fosse bom, ninguém dava..."
A verdade é que o repertório de um/a fadista é fundamental e, assim, aquele potencial de voz não anda a ser bem aproveitado, dizemos nós...
Saudações fadistas

MLeiria disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Acho que deve ser mais isso. Os conselhos estão sempre errados e são sempre dados por quem nada sabe.
Deve ser por causa disso que eu também fiquei desiludida com a interpretação dele. Para ser sincera, ele parecia que estava a cantar flamengo e não fado. Só lhe faltava por a mão na barriga com os dedos bem abertos.
Depois fui ouvir o No Tempo das Cerejas para me convencer de que me tinha enganado.
Espero bem que sim.

Ruca Sousa

Anónimo disse...

Gosto muito deste blogue porque adoro fado. Não consigo vir à net sem vos fazer uma visita demorada, porqe gosto de ler todos os artigos e todos os comentários.
Eu adoro a voz do Gonçalo Salgueiro porque a acho única. Concordo inteiramente com os comentários aqui publicados. Ele tinha tudo para ser a versão masculina da Marisa no fado.
Quem sai prejudicado são aqueles que gostam de o ouvir cantar,mas sem tanto carrocel na voz que lhe fica mal e não o beneficia em nada.
Parabéns pelo blogue, pela sua seriedade e correcção de todos nos comentários. É assim que deve ser.
Viva o fado.

MLeiria disse...

Obrigada, caro anónimo!
Apareça sempre!