quinta-feira, abril 23, 2009

FADO MARIALVA




















Foi um evento muito agradável, e que encheu por completo o Auditório do Museu do Fado, o que ontem ali teve lugar para apresentação do livro FADO MARIALVA, da autoria do advogado, historiador, escritor, poeta e investigador António Manuel de Moraes (Dr.), prefaciado por Vicente da Câmara (Dom).


O livro, acerca do Fado e da Festa Brava, reflecte um sério trabalho de investigação nesses dois Universos e é, por certo, um dos mais completos, senão mesmo o mais acabado documento acerca da convivência dessas duas artes tão lusitanas, que fazem parte da mais genuína Cultura Portuguesa.
De facto, a palavra marialva contém, para além do seu mais pertinente significado de fidalgo, conquistador de mulheres, um outro mais oculto, mas sempre presente, o de que esse fidalgo leva uma vida marginal, convivendo com toureiros e fadistas.

E assim é que, duma ilícita união dum fidalgo marialva com a Severa, dessa insustentável paixão, porque socialmente reprovável, nasceu "o fado triste da Mouraria", como aventa Linhares Barbosa (que no Fado ficará conhecido como Príncipe dos Poetas), no conhecido e emblemático Tia Macheta, que todos conhecem na interpretação magistral de Berta Cardoso.

O nome marialva, tão exclusivo à lusitana Língua como o é também a palavra Fado e o vocábulo saudade, fica a dever-se, por certo, ao Marquês de Marialva; se bem que não seja esse o fidalgo pelo qual indaga a Severa à alcoveta Tia Macheta...

O marialva é um produto português! desgraçadamente em extinção, como as próprias sociedades rurais...

O gosto pelas coisas da terra, pelo cavalo e pelo touro, caracterizaram, de algum modo, parte da nobreza rural que "às portas" de Lisboa vivia e na cidade, onde buscava divertimento, plasmava esse seu estar, de homem civilizado mas simultaneamente selvagem, tão bravio como a própria Natureza a que pertencia... era ele o homem de uma força telúrica, admirado pelas frágeis donzelas e cortesãs urbanas que estimavam essa lusitanidade e esse porte altivo que copiara das giestas...

O marialva, esse produto 100% nacional que fez escola - o Marialvismo, mas que não se internacionalizou, terá, como seu congénere estrangeiro, o playboy, este de características bem urbanas, que, em vez do cavalo, se desloca a centenas de cavalos, que em vez de casa no campo tem apartamento numa qualquer das mais badaladas estâncias de veraneio, que não se dá com fadistas, antes com pop-stars e que toureiros nem vê-los, toiro é animal que não gosta de encontrar, nem na tela... de resto, animais só em louça ou então os da mesma espécie...
Do cruzamento de ambos, temos notícia do surgimento de uns novos espécimens - os marialvas playboys, de que iria falar seguidamente, mas que, a conselho avisado da minha gata, a Fifi, me escuso agora de escrever, até porque como muito bem disse a gata "nem vem a propósito... estás-te a passar! ... Esse programa é logo à noite na Sic. Fala é do livro para ver se acabas com o assunto, que não tens falado noutra coisa!..."
Gata manda, humano obedece!
Concluindo, então,

O Fado Marialva é, já pelo assunto, já pela qualidade, um livro indispensável na biblioteca de qualquer português ou de qualquer um com alma lusitana!

Parabéns por esta inestimável Obra!

2 comentários:

MLeiria disse...

Muito elogioso este seu comentário, Manuel. Obrigada. Vai gostar do livro, aposto!
Depois gostaria de ter a sua opinião, no que respeita à parte dos toiros.
Beijinho

MLeiria disse...

Não tinha visto ainda; mtº bem ilustrado, pelo Manuel R. Telles B.
Parece-me que, ao 4º Marquês de Marialva, se deve as "regras de cavalgar à gineta" e que o fado "Última corrida de touros em Salvaterra" relata um facto histórico em que uma das principais personagens é o Marquês
http://avozportalegrense.blogspot.com/2007/08/ltima-corrida-de-touros-em-salvaterra.html
De facto, fado e toiros sempre andaram de mão dada e serão das nossas mais emblemáticas tradições.