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Já agora, permito-me a liberdade de contar uma história a que acho imensa piada e que se passou, há muitos anos, no Café Nicola, então frequentado por artistas vários, entre eles o
Linhares Barbosa, um dos mais geniais poetas do fado.
Trabalhava então no Nicola, como empregado de mesa, um rapaz que se enamorou da empregada da Tabacaria, mas que não encontrava maneira de se declarar; era demasiado envergonhado para falar com a rapariga e, como era analfabeto, também não se podia declarar por escrito. Um dia em que andava mais tristonho, o Linhares perguntou-lhe qual o motivo que assim o transtornava e ele lá se confessou, aproveitando para lhe pedir o favor de, por ele, escrever um bilhete bonito e convincente à rapariga, objecto da sua paixão . O genial Linhares, que era um brincalhão, não se fez rogado e logo ali lhe escreveu um bilhete que o rapaz seguidamente, todo contente, foi entregar à moça da Tabacaria. A rapariga leu o bilhete, corou e, em vez de ter a esperada reacção, atirou com a bilhete à cara do rapaz, chamando-lhe malandro e outros mimos. Intrigado, o rapaz pegou no bilhete e pediu a um colega que lho lesse; a "declaração" dizia assim:
"Eu sou bonito, não acha?
E o que é que você diria
Se eu lhe fosse à pachacha
Mesmo na Tabacaria?"
Já se imagina a "festa" que se seguiu !...