Pois! Numa primeira abordagem a este LP, o que desde logo chamou a minha atenção foi o nome de dois dos três fadistas nomeados- Espírito Santo e Manuel Carlos. Que diacho! Nunca os ouvira sequer... quanto à Mariana Silva, quem não conhece?! a "Miúda do Alto do Pina", raínha do Fado Menor em 1952... pensei, então, que fosse estratégia de promoção- um nome mais que conhecido e conceituado a garantir a venda do disco e o lançamento de dois novatos no Fado; passei à procura da data do disco- 1977- e dos temas interpretados pela Mariana Silva
Verifiquei que nenhum dos quatros fados indicados faziam parte, que eu soubesse, do repertório da fadista e nem nunca sequer teriam sido interpretados por ela... Curiosa fiquei e, para desvendar o mistério, inevitável era adquirir o disco (há estratégias comerciais muito eficazes; que funcionam, mesmo quando se está mesmo a ver que estamos a ser enganados...). Enfim, comprei e marchei-me para casa, naquela ansiedade de confirmar que tinha sido engodada mais uma vez mas que também podia ser que não, nessa margem de 1% de esperança de ter, afinal, uma boa surpresa. Qual quê! Ao ouvir o disco, ficou confirmada a manhosidade- a anunciada Mariana Silva é outra, outra cantadeira que não a que o Fado consagrou, uma cantadeira que gravou com o mesmo nome artístico que a "verdadeira" Mariana Silva usa desde que começou a cantar, em 1948. Claro que, pela voz, se percebe logo que é outra intérprete, mas isso é depois, depois de se ter comprado um produto que não corresponde ao que se queria e, como o disco não tem fotografia da artista, qualquer incauto cai na esparrela... É o que se chama vender gato por lebre! (salvaguardado o maior respeito pelos felinos e por essa Mariana Silva, seja ela quem for)
Não sei se haverá alguma legislação que impeça o uso do mesmo nome artístico por oficiais do mesmo ofício, mas creio que sim; lembro que, quando começou a cantar, a fadista Lina Maria teve que acrescentar o Alves ao seu nome artístico, em virtude de haver já uma cançonetista com o nome de Lina Maria. Bastaria, contudo, o bom senso para tornar desnecessária tal norma. O nome artístico é uma marca que deveria tornar o artista inconfundível... Enfim, parece-me tão óbvia esta questão que, o caso apresentado, me parece traduzir, ou uma enorme ignorância (o que é de estranhar por parte da editora), ou um enorme desrespeito por quem já usava aquele nome, muito embora, sendo a editora do Porto, se pudesse dar o caso de ser esta uma Mariana Silva, do Porto... uma reedição das Mª de Fátima, uma, a de Lisboa, outra, a "A Miúda da Boavista", indistinções que podem ocasionar dissabores... Olha que bom seria eu pensar estar a contratar para um espectáculo, por exemplo, o Herman José e sair-me depois um Herman José, mas do Minho, ou aparecer-me para actuar um Tony Carreira, de Faro, em vez do verdadeiro, de ArmaDOURO!...
Em suma, aqui fica este aviso à navegação, se encontrarem este disco, comprem apenas se quiserem conhecer "a outra" Mariana Silva.
Em suma, aqui fica este aviso à navegação, se encontrarem este disco, comprem apenas se quiserem conhecer "a outra" Mariana Silva.