Começo o ano por relembrar este texto, publicado em 1907 na I.P., assinado por TINOP, Pinto de Carvalho, a quem se deve a obra basilar "História do Fado", editada em 1903, reeditada em 1984 pela Dom Quixote, uma das mais sólidas referências sobre o género, um documento que se mantém actual e válido e que está na origem de tudo o que, nos últimos anos, se tem vindo a escrever sobre o assunto. Como se sabe, Tinop é defensor da origem marítima do Fado, recusando em absoluto a raiz árabe que Teófilo Braga lhe atribui. Para aquele autor, o fado surge como consequência de uma expressão musical com origem marinheira, mescla das “toadas plangentes” de que falava Oliveira Martins, “cantigas monótonas como o ruído do mar”, que se ouviam “por toda a costa do ocidente”e que apenas em 1840 aparece referenciado em Lisboa: “Até então, o único fado que existia era o fado do marinheiro, cantava-se à proa das embarcações, onde andava de mistura com as cantigas de levantar ferro, a canção do degredado e outras cantilenas undívagas”, diz Pinto de Carvalho.
Neste texto, começa Pinto de Carvalho por declarar que "Lisboa é a metrópole do fado" que é "genuinamente alfacinha"; refere-se às diversas fases e épocas do fado , nomeando as mais notáveis cantadeiras e cantadores, aos fados políticos e respectivas histórias e conclui reconhecendo que, muito embora, "nos últimos anos o fado tenha mudado de rumo, a hipócrita civilização do séc XX não logrará fazê-lo sumir no vórtice da moda, porque o fado é a mais portuguesa das canções portuguesas,enfim, porque o fado é o nosso absoluto da consciência real".
Amen!