quarta-feira, julho 25, 2012

"Cruz de Guerra" - Berta Cardoso


No verbete anterior, publiquei o poema - Cantiga do Soldado -, datado de 1915, de Manuel de Barros, em que se refere que, ao partir para a guerra, o soldado leva consigo " a guitarra sensual" porque "vencer cantando o Fado / É fado de Portugal". É deste modo que se assinala a presença dessa "Cantiga do Soldado" nos adversos tempos de guerra. Essa Canção que, entre as mais diversas temáticas, tratou também da problemática da guerra, esse pesadelo maior da Humanidade, que tão presente continua no mundo, a afligi-la, infligindo-lhe as maiores desumanidades.
Como bem sabemos, a primeira metade do século passado foi ensombrada pelas 1ª e 2ª guerras mundiais, de 1914 a 1918 e de 1939 a 1945. É precisamente em 1935 que Armando Neves escreve "A Cruz de Guerra",  poesia com que obteve o 1º Prémio de poesia, no Concurso-Literário desse ano, do S.P.N. Essa letra é posteriormente musicada por Miguel Ramos, para o repertório de uma das 1ªs figuras do Fado de então, Berta Cardoso, que o grava pela 1ª vez em 1936, acompanhada pelo próprio Miguel Ramos e por José Santos. Este é, creio bem, o seu mais emblemático fado e, provavelmente, o fado que esteve durante mais tempo nos Hits da rádio dos anos 30, 40 e ainda 50. Compreensivelmente. O assunto que a todos preocupava (preocupa) era a guerra e era igualmente o assunto que a todos colocava (coloca) grandes questões humanitárias... Particularmente, por certo, a todas as mães, às dos vencidos e igualmente às dos vencedores, a todas aquelas que, mesmo recebendo uma medalha- "Cruz de Guerra" - que simboliza o reconhecimento da Pátria pela bravura dos seus filhos, não podem alienar a tristeza que sentem pela morte desses seus mais preciosos bens; é, por certo, contraditório, este orgulho que se sente pela coragem dos filhos, que se batem pela Pátria e a dor pela perda de quem mais se ama; é, por certo, contradição e contraste que, nesses momentos de intenso pesar, uma mãe, que chora a morte do seu filho, tenha ainda espaço para pensar nas outras mães, as do "inimigo", que choram também pelas mortes dos seus, que esse acto de bravura, quiçá, terá ocasionado...
De facto, na guerra, não há vencedores nem vencidos; há apenas perdedores, predadores e muita Dor...


Aqui fica a letra "A Cruz de Guerra", devidamente visada pela Censura, e o registo de duas versões deste fado, uma mais moderna e outra, a 1ª gravação segundo creio, na interpretação da sua criadora- BERTA CARDOSO
Como curiosidade, igualmente aqui fica o registo da interpretação do mesmo fado por Isabel de Oliveira, uma das poucas fadistas, senão a única, que "ousou", depois da sua criadora, não só interpretar, mas mesmo gravar, este quase que exclusivo de Berta Cardoso. 







sexta-feira, julho 13, 2012

BERTA CARDOSO - FADO VERSÍCULO - "FRACASSO"


Este é o Fado Menor com Versículo, também conhecido por Fado Pierrot ou simplesmente Versículo, cuja autoria se reconhece a Alfredo Duarte, Marceneiro. A letra é de Linhares Barbosa, que no fado ficou conhecido como o "Príncipe dos Poetas" e a interpretação de Berta Cardoso, a "Voz de Ouro do Fado".
Vídeo de TiMariaBenta que também disponibilizou a letra


FADO FRACASSO
(Linhares Barbosa/Alfredo Marceneiro)

Quando há bocado me viste reparaste,
Que eu trazia um ar cansado, um ar doente,
Eu ando cansada e triste e arrependida
De ter andado a teu lado ultimamente.

Jurei aos pés do altar, piedosamente,
E jurei a uma Virgem de olhos doces,
Em sempre te acompanhar como uma sombra
Fosses tu ao fim do mundo, aonde fosses.

Mas um dia, um dia veio, um dia não,
Reparei que o teu amor era aparente
E fiquei abandonada, desprezada,
porque tu sem reparar seguiste em frente.

Eu cansei de ser sombra, de ser crente
E por isso tu me viste com cansaço,
Arrastando tristemente e arrependida
A falência do meu sonho, o meu fracasso.

terça-feira, julho 10, 2012

"Meu amor fugiu do ninho" - BERTA CARDOSO



Este continua a ser, sem dúvida, o meu Corrido favorito, que não podia estar mais bem interpretado, para além da magnífica letra, da autoria de João Linhares  Barbosa, claro está...
O vídeo foi-me dedicado pelo Amigo Américo, como se transcreve:


Quis muito editar este vídeo para oferece-lo á Amiga TiaMacheta, por tantos motivos, mas principalmente pelo trabalho e dedicação ao Fado e a todos os que envolvem este fenómeno e mais ainda por manter viva a memória dessa Grande Senhora que foi Berta Cardoso, que ajudo a recordar com saudade, neste vídeo. Espero da TiaMacheta ou do QuimFadista (eles sabem muito) a vossa ajuda com os autores deste fado, que depois adiciono ás informações do vídeo. Um beijinho para ela e um abraço ao Quim e a todos. Américo
Pois já a TiaMacheta disse de sua Cátedra: Letra : Linhares Barbosa e musica: Fado Corrido. Obrigado 



Mais uma vez, muito obrigada pela gentileza e afecto e também pela séria e desinteressada divulgação do Fado, que tem feito durante os últimos anos, no seu blog e no Youtube

Depois de "ouverem" este Corrido, digam lá que "o Fado é triste"!... Pois não e tem ainda essa particular faceta de poder "soer" diferente de cada vez que é interpretado... Querem "ouver"?

sábado, julho 07, 2012

BERTA CARDOSO - "Cinta vermelha"


Este fado, originalmente intitulado "Coisas vermelhas", escrito em 1954 para o repertório de Berta Cardoso, por João Linhares Barbosa, é "Um fado castiço", como o próprio menciona em subtítulo, na página do manuscrito. Cantado no Fado Magala, cuja autoria se atribui a José Carlos "Magala" e a seu irmão, o guitarrista Acácio Gomes, é mais um dos fados emblemáticos de Berta Cardoso, que outras fadistas têm interpretado também, retirando-lhes, é claro, os versos que referem o nome da sua criadora (com algumas excepções...)

VÍDEO DE HOMENAGEM


(verbete de 17.08.2008, republicado)

Eis algumas das interpretações, disponíveis na net, por

 Ana Sofia Varela



Maria Amélia Proença



 Cristina Andrade



Anabela Silva



Júlia Lopes