quarta-feira, novembro 30, 2005

ABDICAÇÃO
















Toma-me, ó Noite Eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... Eu sou um Rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei,
E meu ceptro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas dum tinir tão fútil -
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a Realeza, corpo e alma,
E regressei à Noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

Fernando Pessoa (1913)

sábado, novembro 26, 2005

Isto é o Porto












"...A Empresa Piero sabendo que a famosa cultora da Canção Nacional se encontrava de passagem nesta cidade teve a boa ideia de a convidar a comparticipar do êxito da revista «Isto é o Porto», o que só pode ser durante poucos dias , a partir de hoje."
Jornal de Notícias, 19.04.1948

sábado, novembro 19, 2005

A DIVINA
















Berta Cardoso, na Viela



Berta Cardoso, a Voz de Oiro do Fado, teve sempre um particular cuidado na escolha do seu repertório que, como se sabe, é vastíssimo. Dado o êxito que qualquer criação sua alcançava (lembremos, só como exemplo "Cruz de Guerra" e "Tia Macheta"), os poetas não só compunham intencional e expressamente para ela (lembre-se os fados "Cinta Vermelha" e "Homem da Berta"), como também lhe ofereciam muitas letras na esperança que ela as cantasse, o que nem sempre vinha a acontecer.
De facto, o espólio de Berta Cardoso, depositado no Museu do Fado, contém um número considerável de letras, que lhe foram oferecidas pelos mais variados poetas, e que ela nunca cantou.
Outras letras, contudo, terá pago, de resto como as pagavam as e os outro/as fadistas . Se assim não fôra, de que viveriam os poetas? Provavelmente, não do ar!; de facto, alguns eram assalariados, por isso não dependiam tanto da arte; mas, para outros, a criação de textos escritos ou musicais eram o único meio de subsistência. Se Berta Cardoso "pagava generosamente" as letras que decidia cantar, como refere o Senhor Professor Doutor Rui Vieira Nery, a páginas 210 do seu livro "Para uma História do Fado", editado pelo Público, isso só pode ser motivo de rejúbilo e aplauso, atestando a sua fama de boa pessoa; mais prova que Berta Cardoso não se servia da fama que tinha para explorar os que necessitavam, pagando pela tabela "normal"; antes, como podia, pagava "generosamente" aos seus poetas de eleição, que era uma forma de compartilhar o sucesso...
E não, Senhor Doutor!, não seria pelo facto de pagar generosamente que Berta atraía muitos dos melhores poetas do meio, como o senhor advoga...
De entre os documentos que deixou e de que nunca fez alarde ou uso para ganhar ou conseguir o que quer que fosse, Berta guardava este papel, qua abaixo transcrevo, escrito pelo poeta e compositor musical Júlio de Sousa, a quem se devem, entre outros, os conhecidos fados : Saudade vai-te embora, Não se morre de saudade, Mau olhado, Caminhos, Não digas a ninguém, Senhor perdoai, Vim para o fado, Loucura e tantos outros interpretados por vários fadistas, entre eles Berta Cardoso, Fernanda Maria, Beatriz Ferreira, Flora Pereira, Natércia da Conceição, Carlos do Carmo...
Que cada um tire as conclusões que entender!...

Quando escrevo uma canção
Penso em ti, na tua voz.
Tenho cheio, o coração
De mil canções, para nós...

És a Sereia da "Viela"
Berta Cardoso, "A Divina"
Na minha vida és Aquela
Que a minha vida domina.

Mando os versos prometidos
"Que prometeste" cantar
Se Eles não forem esquecidos
Eu te "prometo" voltar.

Minha Exmª Amiga
Hoje é em verso que lhe escrevo. As nossas "categorias" não permitem a prosa banal...
Um grande abraço de admiração afectuosa do POETA DAS DÚZIAS
Júlio

sexta-feira, novembro 18, 2005

VAMOS DESPOCOTIZAR ?

Eu não quero ser um Pocotó !... E você?

Vale a pena ir a http://wmv.cc/luciano/videos.htm para perceber do que estou a falar.

Adira à Campanha - "Vamos Despocotizar Portugal"

Contra a mediocridade, LUTAR! LUTAR!

Vejo cerejas, sinto saudade!


Mais um fado, com letra de Linhares Barbosa e música de F. Carvalhinho, do repertório de Maria Pereira, mas também gravado por Mariana Silva.






Brincos para brincar

Quando eu era pequenina,
para me enfeitar as orelhas,
minha mãe punha-me, às vezes,
quatro cerejas vermelhas.

E toda tola,
lembro-me ainda,
ia para a escola,
vaidosa e linda.
Brincos vermelhos,
a dar que dar,
pedia espelhos
para me mirar.
Diziam todas
-Que bem lhe fica,
lembra, nos modos,
menina rica!
Via-os, revia-os
como riqueza,
depois comia-os
à sobremesa.

Um dia, as mais raparigas,
filhas como eu da pobreza,
puseram-me nas orelhas
dois brinquinhos de princesa.

Depois, mais tarde,
Vi-te e amei-te.
Deste-me brincos
d'ouro de lei.
Bendito sejas!
mas, na verdade,
vejo cerejas,
sinto saudade.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Não pôde cantar, chorou!







O Velho Guitarrista
P. Picasso










Velho Fadista
Na Mouraria, uma noite, a fadistagem
cantava e ria, numa sã camaradagem
Saudosamente, ali estava ao nosso lado,
velho e doente, um fadista já cansado.

Quando cantei, dediquei-lhe, no Corrido,
uns versos em que falei num fadista já esquecido
Ele escutou, porém, notei-lhe no rosto
o seu amargo desgosto, quando o passado lembrou.

Ao terminar, ele, sorrindo com mágoa,
veio-me abraçar, com os olhos rasos de água
e, qual demente, desapertando a samarra,
nervosamente, abraçou uma guitarra.

A banza trina e ele encetou com fervor
uma cantiga em surdina no velho fado Menor
Não terminou, pois, com a alma em pedaços,
veio cair em meus braços, não pôde cantar, chorou!

(Letra: A.Vilar da Costa/ Música: Fado Modesto; Voz: Alcindo Carvalho)

Amoridades















Celebrando a lua cheia

sábado, novembro 12, 2005

Mais um MALHOA


Festejando o S. Martinho ou Os Bêbados Posted by Picasa

Por esta hora, os festejos já devem ter terminado. Ficaram todos num bonito estado, ficaram! Eu bem que vos alertei para as dietas saudáveis, mas quê!... Triste fado!

sexta-feira, novembro 11, 2005

Dietas saudáveis


Colesterol Posted by Picasa

Hoje, dia de S.Martinho, nada de alarvidades à mesa. Evite a carne de porco gorda, os queijos de Serpa e da Serra, também não deve abusar da pingoleta e nem daqueles horríveis doces de ovos... É! deixe isso para os que não se importam de ter níveis de colesterol indizíveis!
Abuse dos vegetais- dos tomates, das cenouras, dos bróculos, dos rabanetes; siga as instruções da imagem...Faça uma dieta à base de vegetais para evitar o "mau" colesterol, beba muita água e deixe-se de festejos...
Vê como os vegetais se ajeitam? !...
A propósito, sabem como é que os matemáticos definem sexo? Segundo eles, é uma equação perfeita - a mulher coloca a unidade entre parêntesis, eleva o membro à potência máxima e extrai-lhe o produto, reduzindo-o à sua mínima expressão.
Bem visto!
Até amanhã! Agora tenho que ir ali à adega ver se já abriram o "depósito" da água...

quinta-feira, novembro 10, 2005

Lisboa, Casta Princesa



O "Fado de Lisboa", com letra e música de A. Leal e R. Ferrão, que foi do repertório de Ercília Costa, na igualmente notável interpretação de Mariana Silva, que o gravou com o nome de "Lisboa, casta princesa"

Lisboa, Casta Princesa,
Que o manto da realeza
Abres com pejo
Num casto beijo;
Lisboa tão linda és,
Que tens de rastos aos pés
A majestade do Tejo.
Lisboa das Descobertas
De tantas terras desertas
Que deram brado
No teu passado
De beleza tens a coroa
Velha Lisboa
Da Madragoa
Quantos heróis tens criado!

Sete colinas
São teu colo de cetim
Onde as casas são boninas
Espalhadas num jardim
E no teu seio
Certo dia foi gerado
E cantado
Pelo povo sonhador
O nosso fado.

Lisboa, tardes doiradas
Dos Domingos, das toiradas
Em que luzia
A fidalguia;
E em que esse sangue valente
Mostrava que havia gente
A quem a morte sorria.
Lisboa, terra de fama,
Tens a tristeza de Alfama
E a poesia
Da Mouraria.
E nos teus velhos recantos
Eu sei lá quantos
Tu tens encantos
Dos tempos da valentia!

terça-feira, novembro 08, 2005

O Fado em África


Berta Cardoso, no Lobito Posted by Picasa

Em 29 Julho de 1933, integrando o Grupo Artístico de Fados, partira para Luanda a bordo do "Niassa".
Mais informação no site www.bertacardoso.com

domingo, novembro 06, 2005

O FADO É APENAS ISTO


Nónó, Casa de Fados Posted by Picasa

Para lembrar hoje, na voz de Júlio Vieitas, letra:D.R., música:Fado Zé Negro

O fado é um estado d' alma
misto de dor e tristeza
onde a saudade se agarra
Enquanto a dor não acalma
a alma fica suspensa
nas cordas duma guitarra.

Vejam bem porque razão
um fadista por excelência
não canta bem quando quer
Canta, sim, se o coração
vibra e sente a influência
dos olhos de uma mulher.

São nesses belos momentos
em que as almas torturadas
se encontram na mesma luta
Expandindo sentimentos
como setas apontadas
ao coração de quem escuta

De afirmar, nunca desisto
o fado é puro lamento
num coração magoado.
O fado é apenas isto
onde não há sofrimento
jamais pode existir fado.

terça-feira, novembro 01, 2005


Corações Posted by Picasa

"Quem tenha dois corações
me faça presente dum
Que eu já fui dona de dois
e já não tenho nenhum!"